terça-feira, 4 de março de 2014

Crónica Rosário Breve Olhai que depois o Tino não casa connosco por Daniel Abrunheiro

O Tino de Rans do PSD é o professor Marcelo. Quase sem tirar e com mais pôr – são a mesma coisa. Foi vê-lo, ao professor, na última feira(rrobodó), vulgo congresso, orangina. Ao genuflectido conclave, só faltou aquele intérprete gestual doidinho do funeral do Mandela. A aura de non-sense era a mesma. O esbracejar era o mesmo. A risota descabida, a mesma. De olhos tipo lémure hiperactivo, querendo muito fazer rir, querendo muito fazer pensar que pensa, querendo muito passar uma esponja sobre a nódoa do apodo de “cata-vento” que tão cruel mas tão justamente lhe pespegou o homem chamado Coelho, o Tino do PPD-que-Deus-tem coaxou presença nas Rans de tal sinédrio tragifarsante para que ninguém, muito menos aquela gente, se esqueça de que ele é que sim, de que ele é que só, de que ele é que TVI. E para que seja a ele e só a ele e a mais ninguém do que ele, não a durões transgenizados em couves-de-Bruxelas ou a santan’adolescentes obsoletos das discotecas da 24 de Julho, levem pelo bracinho mendigão a atravessar a passadeira-de-cegos que leva aos salões dourados de Belém. Foi por isso e foi para isso, não foi por nem para outra coisa. Abençoado convénio aquele, que, sob um só tecto tão pejado de balões vácuos como aquelas cabeças mais dadas ao gel do que ao raciocínio, juntou a mais fina-flor do nosso mais requintado entulho. Nem o abjeccionismo do saudoso Luiz Pacheco lograria compendiar, numa só separata-de-cordel a cinco paus de edição-de-autor, tão inerme e tão enorme catálogo de nulidades apátridas. O que o mar nos anda a (des)fazer ao litoral, anda esta pandilha a contrafazer ao que nos resta, a começar pelo pão-de-cada-dia e a acabar no último assomo de auto-estima. É um partido que faz ao País o que a Abispark anda a fazer ao estacionamento pago de Santarém, à revelia das regras mais estritas da sanidade legal mais lata. A lata é a mesma, de facto.
Olhai: a mim, não me repugna nada o holocausto das “ideologias” manequísta-dicotómicas com que nos formataram no sentido do (des)entendimento do mundo. Os ismos são pepinos mal torcidos que resultam em destinos de reviralho. A meu ver, a Utopia ou é terrena (e portanto humana; e portanto da mesma estatura que nos vai, a nós-gente, das solas ao risco do cabelo) – ou então vê-se assolada por uma espécie malsã de suão soprando-nos nas fuças a estupidez malévola que faz vergar de joelhos os pastorinhos carreiristas ao nível das patorras da azinheira do Poder, essa sarça ardente de néon como as barracas-de-farturas. O que deveras me repugna, é – em detrimento da válida gente séria que este País ainda tem em todos os sectores da vida produtiva – a promoção aos lugares de (ir)responsabilidade do idiota-da-turma, do cunhado sabujo, da amante oxigenada como uma tocha de milho, do sucateiro ignóbil, do licenciado da mula-ruça, do jot’idiota, do pato-bravo anelado de ametista falsa a cavalo num Mercedes de manilhas e de, enfim,  todo o espantalho verminoso capaz de, muito mais depressa do que o comum espectador-eleitor, perceber que esta é uma terra em que só a merdina faz carreira.
Mais do que meu receio, é já minha a certeza de que, como nos filmes porno, acabemos todos por ser a gaja que, depois de tanto e de por tantos facturada e mal paga, nem a consolação do casamento nos redima. Para que isso não nos aconteça (ainda mais), hemos de ter tino. Tino, salvo seja. 

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