sexta-feira, 29 de abril de 2016

Humor de Henricartoon


Crónica Rosário Breve - Eu, rico por Daniel Abrunheiro

Não.
Mas sim.
José Niza.
Luís Eugénio Ferreira.
Eurico Heitor Consciência, agora.
Mas sim é que não: não negarei ao doutor Consciência um obituário ao mesmo tempo triste & feliz.
Triste – pelo lado do sacolejão brusco, da violência estapafúrdia, do escândalo insensato que todo o falecimento de alguém tão merecedor de honra, estima, consideração & elogio nunca deixa de causar. Mas feliz também, senhor.
Feliz – pelo lado de absoluta bonomia que a sua desempoeirada figura, a sua figura alta, egrégia sem favor, ínclita até, esparrinhou por todos (nós) quantos, ou conhecendo-o em pessoa, ou dele beneficiando a profissão, ou a ele-cronista lendo em duas colunas de página-cinco, tiveram a muito (tanta!) boa-sorte de contemporanizar.
Respirámos no mesmo metro-quadrado uma vez única. Foi por uma gala do nosso comum O Ribatejo. Saudei-o como quem sobe. Ele recumprimentou-me como se não descesse. Trocámos mimos. Não trocámos números telefónicos. Isso passou – como tudo passa.
Posso finalmente escrevedizê-lo em voz-alta, agora que ele me não pode ouvi(le)r: foi sempre pela coluna de Eurico, O Não-Presbítero, que comecei a leitura do meu/Vosso Jornal. Mais: fi-lo sempre porque as palavras dele nunca me faziam rir – sorrir sim, sempre, ah isso sim! Ainda esta semana já para sempre pretérita: a mordedura irónica do seu incisivo de propósito mal escondido, sabes tu, Leitor? Aquele sarcasmo nunca humilhante, aquele escárnio nunca gozão, aquele maldizer tão bem dito sempre: e aquela elegância completamente cavalheiresca, de homem antigo que não sabe ser velho, ai!, aquela compostura toda democrática que ele português, num Português forrado de quanto Latim, jurídico ou não, fosse preciso ou não fosse, lembra-te tu, pá, Leitor dele merecido que meu quero merecer – e tudo sempre, mas sempre, para Todos, todos quanto fossem, quantos viessem todos.
Meti-me uma vez com ele. Fi-lo sorrir. Eu sabia que sim, que ele sorriria. Sorriu. Que um advogado com Consciência era abrantino fenómeno só aos fenómenos do Entroncamento cotejável. Ele encaixou sem esgar nem esforço a minha boutade, que simpatia sinalética era. Respondeu-me na crónica seguinte com Abrunhos etc. e tal. Foi das maiores honras da minha vida. Eu era lido. Por ele. Ele respondia ao que eu fingira perguntar.
O doutor Eurico Heitor Consciência viveu acordado a vida toda, 79 anos dela. Espero hoje e aqui, tão-só, que a morte no-lo tenha roubado dormindo.
Dormindo e sorrindo, que é o que precisamente estou a fazer para não desatar a chorar, José Niza. Perdão, para não desatar a chorar, Luís Eugénio. O senhor sabe, doutor Eurico. Não finja que não sabe (fazer) sorrir.

Até para a semana.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

V BIENAL DE HUMOR LUÍZ D’OLIVEIRA GUIMARÃES – PENELA 2016 “DO MEL AO FERRÃO”

V BIENAL DE HUMOR LUÍZ D’OLIVEIRA GUIMARÃES – PENELA 2016
“DO MEL AO FERRÃO”

Por: Osvaldo Macedo de Sousa

“O humorismo representa a mais sã de todas as filosofias, que é a dos que sabem rir.
O humorista comentando através da sua ironia os homens e os factos que gravitam á sua volta,
produz, quando o faz com o espirito superior e critério conceituoso, uma profunda obra moral.
Por isso mesmo a alegria dos humoristas nem sempre deixa de ser ilusória.
Quantas vezes a pequena máscara cor-de-rosa que eles ostentam sobre a face,
esconde uma lágrima pungente! A ironia que se desprende da sua “verve” sagaz encobre,
de certo modo, o drama que o mundo oferece dia-a-dia. Ao seu comentário flagrante.”
(LOG. In “Entre nós que ninguém nos ouve” pág. 68)

O que une a abelha e o cartoonista, o espírito do mel ou a sátira do ferrão?
Como em tudo na vida, depende da perspetiva de cada um e, se a verdade nunca está de um lado nem no do outro, e muito menos no centro mas na essência dos seres, das coisas, das relações, as minhas deambulações metafóricas por este tema não passam de muletas, divagações do pensamento, portas para cada um seguir o seu caminho de reflexão humorística no tópico selecionado para esta Bienal, concordando ou discordando totalmente do que está escrito.
A abelha, ou a apicultura, com a exploração de todos os derivados inerentes à actividade deste insecto, está ligada ao Homem, desde que este tomou consciência do seu espírito, energia essa que também lhe abriu a mente para conseguir olhar o mundo afora das aparências, consciencializar-se para além do espelho, pensar ademais da neblina das palavras e das perspectivas.
Graficamente encontramos as suas primeiras representações por volta de 7.000 a.C., em pinturas rupestres de Araña – Valência. No Antigo Egipto (a partir de 3.200 a.C.) está associada à realeza faraónica, agregadora numa única colmeia – federação de todas as regiões do Egipto: o verdadeiro título do Faraó era NyswBit, onde Bit significa Abelha e é o símbolo do baixo Egipto. Segundo a sua mitologia, Bit foi gerada das lágrimas de Rá (o deus-sol) ao caírem sobre a terra, impondo-se como um ser de múltiplas riquezas e características terapêuticas, ao mesmo tempo que assume a iconografia da alma Divina do ser humano.
Esta ligação espiritual surge em quase todas as culturas da antiguidade, representando, muitas das vezes, a crença da sobrevivência além-morte, da ressurreição / reencarnação. Esta ilação ao caminho da evolução da alma leva a que tenha sido associada a cerimónias iniciáticas, em que o Espírito / Palavra (em hebraico “abelha” escreve-se “Dbure”, cuja raiz Dbr significa verbo / palavra) se purifica pelo fogo, se nutre com o mel (o hidromel é a bebida dos deuses) e que destrói as impurezas / obstáculos com o seu ferrão.
Também o cristianismo absorveu este universo alegórico em que Jesus assume a imagem da abelha e o mel é a doçura da sua palavra / pensamento como alimento das almas e o ferrão o papel de Cristo Justiceiro. Quanto ao Islão, encontramos na Surata 16 : “E teu Senhor inspirou as abelhas: «Construí as vossas colmeias nas montanhas, nas arvores e nas habitações» /… Do abdómen delas sai um líquido variegado de cores que constitui cura para os homens. Nisto há sinal para os que reflectem.” A abelha, nos textos védicos da India, representa o espirito que se embriaga com o pólen do conhecimento. Resumidamente, nesta breve divagação nas espiritualidades, a abelha representa o espírito versus a materialidade, a geometria (divina) contra a ignorância, a ordem social contra a desordem.
Passando de novo ao tema da Bienal, poder-se-á dizer que no princípio é o “pólen” que no caso do humorista é a notícia, o quotidiano que é colhido pelo obreiro, e se na abelha esse néctar é processado pelos enzimas digestivos, no cartoonista é deglutido pelo olhar filosófico do humor, desconstruindo o supérfluo para regurgitar em ironia, comicidade ou mesmo sátira. Tal como o mel, nem todos os humores têm a mesma cor, nem todos riem da mesma forma, nem dos mesmos assuntos, por muito que queiramos impôr a aldeia global para todos os seres, coisas e pensamentos. Consoante os campos, as florações, os pólens recolhidos e as técnicas de preparação, há várias colorações, aromas e gostos no mel. O riso, mesmo universal como a luz divina no reconhecimento das fragilidades humanas, é encarado ou reage em cada cultura e em cada zona geográfica, em cada campo educacional de forma diferenciada. O riso, o cómico, o humor, é fruto dos pólens recolhidos que, consoante os seus tratamentos, pode ter espaço de degustação num território e não noutro. Claro que, como o mel que quando é puro, com o tempo tende a cristalizar, já que não foi sujeito a temperaturas que destroem o seu lado bactericida, também o humor puro se cristaliza no tempo e, por mais anos que passem, por mais voltas que a vida dê, está sempre actual, incisivo e actuante.
A abelha é um animal social, símbolo de trabalho e lealdade, mas também um guerreiro na defesa da comunidade, quando se sente ameaçada, usando o seu ferrão. Da mesma forma, o humor é uma fórmula de pensamento doce que nos faz quebrar barreiras de sociabilidade, combater o pessimismo, diluir as tristezas, construindo equilíbrio social pelo sorriso filosófico, podendo contudo farpear, quando o político, as intolerâncias, os abusos do poder colocam a comunidade em perigo.
O ferrão da abelha / humorista está ligado a um sistema venoso que provoca um efeito alérgico, gravidade que está dependente do sistema imunológico. No caso da sátira, o padrão de reacção à toxicidade está concomitante ao grau educacional da vítima, ao nível do seu sentido de humor, capacidade de autocrítica, surdez, cegueira ou intolerância mental. Já o filósofo grego Epicetus tinha dito: “Não são os eventos do mundo que são o problema, mas a nossa forma de olhar para eles”. Tal como a tolerância ou intolerância, o sentido de humor tem de jorrar de ambas as partes.
Há muitas formas de olhar e de não querer ver e, neste momento em que vivemos um grave deslocamento de povos, de migrações, em que as necessidades, por vezes, se misturam com oportunismos, mafias, fundamentalismos, em que a tolerância joga com outras intolerâncias, a alegoria da abelha é uma das formas de olhar para esse fenómeno porque também ela, como a humanidade, está num período de crise grave. Como refere Einstein: “Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência, sem abelhas não há polinização (ela é responsável por 80 a 90% deste fenómeno natural), não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá raça humana”. O equilíbrio da biodiversidade, tal como do multiculturismo é fundamental. O que coloca em perigo este ser? As políticas de pesticidas, a sobrepopulação de apicultura (que recomenda 800 metros entre cada apiário), que cria guerras entre colmeias e migrações, a doença parasitária Varroose, a vespa Velutina Nigotorax…. Comparativamente, podemos referir que também as políticas de opressão destroem a liberdade de expressão humorística, que a doença parasitária do “politicamente correcto” asfixia a mente filosófica e a vespa do terrorismo mata a criatividade. A vespa para além de cortar a cabeça das abelhas, instala-se à porta das colmeias infestando esta com stress, com o medo de saírem à rua e morrerem de fome…
O mel é um dos alimentos do corpo com maior valor energético, rico em vitaminas, minerais e bactericida, o que lhe confere alto poder terapêutico (tal como outros produtos ligados às abelhas), cumplicidade que mantém com o humor. A “apiterapia” como a “geloterapia”, são medicinas alternativas fundamentais porque o riso, subproduto do humor, quando “explode” exerce o seu impacto no sistema muscular, nervoso central, respiratório, cardiovascular, imunológico e endócrino….
O que separa a abelha do cartoonista? O mel é consumido por todos, sem observar as religiões, os clubismos, os partidarismos distribuindo a sua riqueza democraticamente, assim como o seu ferrão é usado apenas quando a segurança da colmeia é posta em causa. Já a comicidade tem componentes subjectivas, porque o ser humano é falível, e por muito filósofo que queira ser no seu humor construtivo, a desconstrução dos factos, que nem sempre são globais mas parciais, pode induzir a erros, as facciosismos, e isso só se cria com a verdadeira liberdade de espírito, estando acima das tolerâncias e intolerâncias, ser superior às ideologias e crenças, ser democrata no sentido de reconhecer e aceitar as diferenças, assim como obrigar a que reconheçam e aceitem a sua diferença. Não há melhor critica, filosofia construtiva, ou comicidade que a que é feita pelo sorriso.

“/…/ O sorriso é o bom tempo do espírito. As almas que apenas sabem rir e soluçar são almas
que têm apenas Verão e Inverno. Falta-lhes a Primavera e Outono – que são na verdade,
as duas estações sorridentes da Natureza”
(LOG in “Fim de Semana” de 15/3/1948)

Por tudo isto podemos dizer “Sigam a Abelha”, a qual, se é um barómetro do equilíbrio dos sistemas ecológicos, também o humor é o barógrafo de alerta da sanidade mental da sociedade, do equilíbrio democrático do poder, razão pela qual ambos têm de ser protegidos para que não sejamos uma humanidade em vias de extinção.
Sendo portanto o tema desta V Bienal de Humor Luís d’Oliveira Guimarães – Penela 2016 - “Do Mel ao Ferrão”, convidamos os artistas de todo o mundo a filosofarem sobre o papel da abelha / mel (e demais derivados) na nossa sociedade e, paralelamente, o papel do humorista / cartoonista. Não nos podemos esquecer das alergias que se têm desenvolvido contra o ferrão da sátira / ironia, o medo da vespa terrorista que tem matado, perseguido e oprimido os filósofos da liberdade e da actualidade que vive um momento importante no jogo das tolerâncias e intolerâncias. Não nos esqueçamos que a integração só resulta quando o outro também se integra, tolerância exige tolerância, intolerância cria intolerância.
Podendo participar com o máximo de quatro trabalhos, dois devem ser obrigatoriamente sobre esta temática (ou os quatro), podendo os outros dois serem retratos-caricaturais de cartoonistas (auto-caricatura ou de mestres do seu país).

V BIENAL de HUMOR “LUÍS D’OLIVEIRA GUIMARÃES” - PENELA 2016

Uma Organização: Câmara Municipal de Penela / Junta de Freguesia do Espinhal
Uma Produção: Humorgrafe - Director Artístico: Osvaldo Macedo de Sousa (humorgrafe.oms@gmail.com)
1 - Tema: “Do Mel ao Ferrão” - convidamos os artistas de todo o mundo a filosofarem sobre o papel da abelha / mel (e demais derivados, para alem do seu papel na biodiversidade) na nossa sociedade e paralelamente o papel do humorista / cartoonista. Não nos podemos esquecer das alergias que se têm desenvolvido contra o ferrão da sátira / ironia, o medo da vespa terrorista que tem matado, perseguido, oprimido os filósofos da liberdade e da actualidade que vive um momento importante no jogo das tolerâncias e intolerâncias. Não nos esqueçamos que a integração só resulta quando o outro também se integra, tolerância exige tolerância, intolerância cria intolerância.
2 - Aberto à participação de todos os artistas gráficos com humor, profissionais ou amadores.
3 – Data Limite: 25 de Junho de 2016. Devem ser enviados para humorgrafe.oms@gmail.com, humorgrafe@hotmail.com ou humorgrafe_oms@yahoo.com (No caso de não receberem confirmação de recepção, reenviar de novo SFF).
4 - Cada artista pode enviar, via e-mail em formato digital (300 dpis formato A4) até 4 trabalhos a preto e branco (uma só cor com todos os seus matizes – não são aceites desenhos a 2, 3 ou 4 cores – em que obrigatoriamente dois devem ser sobre esta temática, podendo os outros dois serem retratos-caricaturais de cartoonistas - auto-caricatura ou caricatura de mestres do seu país), aberto a todas as técnicas e estilos como caricatura, cartoon, desenho de humor, tira, prancha de bd (história num prancha única)... devendo estes vir acompanhados com informação do nome, data de nascimento, morada e e-mail.
5 - Os trabalhos serão julgados por um júri constituído por: representantes da Câmara Municipal de Penela; representante da Junta de Freguesia do Espinhal; representante da família Oliveira Guimarães; pelo Director Artístico da Bienal; um representante dos patrocinadores, um representante de comunicação social local e um a dois artistas convidados, sendo outorgados os seguintes Prémios:
* 1º Prémio da V BHLOG- 2016 (no valor de € 1.800)
* 2º Prémio da V BHLOG- 2016 (no valor de € 1.300)
* 3º Prémio da V BHLOG- 2016 (no valor de € 800)
* Prémio Revelação de Humor da V BHLOG- 2016 (no valor de € 250) (para autores nacionais com menos de 25 anos de idade).
O Júri, se assim o entender, poderá conceder “Prémios Especiais” António Oliveira Guimarães, Município de Penela. Junta de Freguesia do Espinhal e Humorgrafe), a título honorífico, com direito a troféu.
6 - O Júri outorga-se o direito de fazer uma selecção dos melhores trabalhos para expôr no espaço disponível e edição de catálogo (o qual será enviado a todos os artistas com obra reproduzida).
7 – A Organização informará todos os artistas por e-mail se foram selecionados para a exposição e catálogo, e quais os artistas premiados. Os trabalhos premiados com remuneração, ficam automaticamente adquiridos pela Organização. Os originais dos trabalhos premiados deverão ser entregues à Organização (o original em trabalhos feitos a computador é um print de alta qualidade em A4, assinado à mão e numerado 1/1), porque sem essa entrega, o Prémio monetário não será desbloqueado.
8 - Os direitos de reprodução são propriedade da Organização, logo que seja para promoção desta organização, e discutidos pontualmente com os autores, no caso de outras utilizações.
9 - Para outras informações contactar o Director Artístico: Osvaldo Macedo de Sousa (humorgrafe.oms@gmail.com) ou V Bienal de Humor Luís d’Oliveira Guimarães, Sector de Cultura, Câmara Municipal de Penela, Praça do Município, 3230-253 Penela - Portugal.


10 - A V Bienal de Humor Luís d’ Oliveira Guimarães – Penela 2016, realiza-se de 3 a 21 de Setembro no Centro Cultural do Espinhal, podendo contudo ser também exposta em outros locais a designar.