segunda-feira, 30 de março de 2015

Dia 1 de Abril inaugura no espaço Atmosfera M (Rua Castilho nº5) uma mostra de trabalhos da IV Bienal de Humor Lu'iz d'Oliveira Guimarães - Penela com o tema Liberdade


Rosário Breve Morreu Helder, viva Herberto por Daniel Abrunheiro

 Morreu Helder, viva Herberto (1930-2015)

1
Nas fêmeas envelhecidas revejo a minha extinta Mãe.
Como Francisco de Assis, amantes todas de animais – do animal da Morte sobretudo.

2
Consta que o mais veloz ser do mundo é o falcão-peregrino. Em voo-picado, já 400 km/h lhe cronometraram. Pobre equívoco de ornitólogos e velocistas: nem maior velocidade nem mais brusco voo há que o da humana vida.

3
Leitor, és ledor: vedor de águas subterrâneas. Ou de freáticos sentidos ocultos. De bífido ramúsculo de oliveira nas mãos, busca o aquático veio da tua vida. Não está nos livros. Ou estará?

4
Em menino, breve rapaz.
Homem feito, grave rapace.

5
1930-2015: duas datas podem sumir, podem consumar, podem consumir – mas resumir, não podem.

6
Morre o homem, a Poesia dele fica: retumbante vitória fora de casa. Isto é e seja: fora do corpo. Finalmente. Final mente.

7
Não mais passos em volta. Não mais a cabeça entre as mãos. Nem depois da morte, como lho relembrou Ruy Belo. O futuro ganhou o direito a ser todo antes.

8
Bares anoitecidos como cerveja preta, marinheiros em terra esclarecendo a cálices de genebra a manhã enregelante. Placentas sem uso e preservativos por usar atirados ao lixo do amor-de-aluguer. O peixe vermelho-amarelo-preto. Nenhum Pã e nenhuma flauta. Camões a morrer de fome, Pessoa de sede, Herberto por estar na hora. Toda a gente com o seu empregozinho a ir-vir-ar-e-tornar de uma Cacilhas sem Ameríndias à gávea. Mas a Poesia na mesma. Mas a inelutabilidade dela.

9
Morreu o corpo-Helder: cinza reiterada. Persi’xiste o escriba-Herberto: glorioso maluco, sigilosa máquina voadora (falcão-peregrino, mãe de si mesmo). Não concedia entrevistas. Vistas, sim: todas. Interiores todas.

10
Todos seremos, um dia, uma sombra numa frase de alguém a nosso respeito. Ele, HH, não. Ele, uma luz sim. Vêde vós essas assisfranciscanas senhoras tão envelhecidamente amáveis para com os animais. Cabeça entre mães.
E Herberto de volta.

Ouvi-lhe os passos. 

Evento Marc'Aurélio no Cinema S. Jorge - 8 1/2 Festa do Cinema Italiano

Ontem, no Cinema de S. Jorge, integrado no 8 1/2 Festa do Cinema Italiano falou-se do cartoonismo italiano (Marc'Aurélio), português (Sempre Fixe, Ridículos), do humor, do cinema, de Fellini... Na mesa pode-se ver Stefano Savio (Director Artístico da Festa), Lorenzo Codelli (crítico cinematográfico e conselheiro dos principais Festivais de cinema),  Paola d'Agostino (tradutora / escritora italiana), Fabiana de Bellis (historiadora italiana) e Osvaldo Macedo de Sousa (historiador português), A razão desta intervenção no mundo dos humores é a apresentação do novo filme de Ettore Scola "Que Estranho Chamar-se Federico" um filme que nos leva ás origens de Fellini e Scola na redacção do jornal humorístico Marc'Aurélio.

domingo, 29 de março de 2015

7th Salão Medplan de Humor

Regulation Salão Medplan 2015

1 - PARTICIPATION : 07 April to 14 June 2015. 
The 7th Salão Medplan de Humor is open to all graphic artists , in charge and / or cartoon modalities .
The opening of the Exhibition will be July 19 , with the announcement of winners .
Each artist can enroll with the maximum of five ( 5 ) unpublished works in the format 30x40 cm and using any technique . On the back of each drawing , or in registration/e-mail must include the author's full name , address, email , phone number , ID number , social security number and bank account .
The artist can participate by sending their work through the website
www.medplan.com.br (with maximum size of 3 megabytes ), sending to salaodehumor@medplan.com.br or sending the originals to :
7º Salão Medplan de Humor
Rua Coelho Rodrigues, 1921
Centro CEP: 64000-080 
Teresina ? PI BRASIL
2 - THEME
The theme of the 6th Salão Medplan de Humor will ENVY .
3 - AWARDS
First prize: R$ 5,000.00 (five thousand reais) 
Second Place : R$ 3,000.00 (three thousand reais). 
Internet Award : R$ 2,000.00 (two thousand reais) .
Medplan Award Caricature: R $ 2,000.00 (two thousand reais). Theme free.
The Internet Award will be chosen by Internet users, 9-13 June at the site :
www.medplan.com.br
The best works will be part of the traveling exhibition of the 7th Salão Medplan de Humor. The awarded works will be considered acquisitive and will become part of the acquis Medplan.
The works will not be returned.
May not participate in this hall officials Medplan, their relatives and anyone involved in your organization.
The simple inscription configure automatic participant's agreement to all such terms.
Other information: +55 (86) 9975 2514

quinta-feira, 26 de março de 2015

Evento Marc'Aurelio - 29 de Março /17h - Cinema S. Jorge no 8 1/2 - Festa do Cinema Italiano

Dia 29 de Março, pelas 17h no Cinema S. Jorge de Lisboa (Sala Montepio) vai-se falar de cartoonismo e cinema.
Por ocasião da antestreia do último filme de Ettore Scola, "Che strano chiamarsi Federico", o 8 - 1/2 organiza um encontro sobre a sátira e o cartoonismo em Itália e Portugal durante os anos 30 a 50. Fabiana de Bellis, historiadora e neta do fundador do "Marc'Aurélio" (onde Federico Felli, Ettore Scola... iniciaram a sua vida profissional como cartoonistas antes de enveredarem pelo cinema) e Osvaldo Macedo de Sousa, historiador do cartoonismo em Portugal vãoapresentar imagens e conteudos das revistas satíricas "Marc'Aurélio" / "Sempre Fixe" e conversar em torno do humorismo gráfico e cinematográfico.
Segue-se pelas 19h30 a projecção do filme

Exposição Cartoon - Liberdade - Na Atmosfera M a partir de 1 de Abril (Selecção de trabalhos da IV Bienal de Humor Luiz d'Oliveira Guimarães - Penela

Para comemorar Abril uma selecção de trabalhos concorrentes à IV Bienal de Humor Luiz d'Oliveira Guimarães - Penela 2014, com o tema Liberdade vai ser exposta na Atmosfera M (Montepio- Rua Castilho nº5 - Junto à Sociedade Nacional de Belas Artes / Cinemateca de Lisboa).
Esta mostra esteve para se realizar na Assembleia da República mas, depois de aceitarem a proposta arredaram pé. Primeiro queriam fazer eles uma selecção dos desenhos. Não era CENSURA apenas uma questão de ser uma casa com muitas susceptibilidades. Depois afinal não era por questão de censura mas por questões logísticas, ou seja logisticamente a Liberdade Humorística, a Liberdade de Expressão parece não ter espaço logístico nos corredores (chamados Passos perdidos - quando se deveria chamar politicas perdidas) cheios de jogos do "politicamente correcto".
Assim quem quiser visitar, ou participar numa pequena tertúlia sobre o cartoonismo e a Liberdade pode aparecer no próximo dia 1 pelas 18h na Atmosfera M onde vão estar presente, pelo menos, os cartoonistas Bandeira, Henrique e Vasco Gargalo.

sexta-feira, 20 de março de 2015

21 de Março - 17h Museu Bordalo Pinheiro - Aniversário de Rafael Bordalo Pinheiro


Rosário Breve - Santo da casa por Daniel Abrunheiro


É inelutável: com a idade, vamos todos volvendo-nos cacos arqueológicos que já só sonham com cola. É da lei natural, tal ocaso cerâmico. Não me queixo delas: nem da lei, nem da idade. No geral, sinto-me até sofrivelmente feliz da e com a vida. Entre o 11 de Junho do ano que estiver em curso e o nono dia do mesmo mês do ano seguinte, vivo em razoável paz com a minha arqueologia portátil. O meu único desassossego é cada 10 de Junho. Cada ano, e por essa data exacta, temo (e tremo) à força toda que o Cavaco se lembre de medalhar-me entre fachos de espada à cinta e come(nda)dores de lautos bolos pagos pelo erário dos tolos. Ou que, caco escaqueirado que cada vez mais sou, o senhor de Boliqueime me etiquete a lapela com um daqueles camafeus (para lhes não chamar broches, não os da oral sucção erógena mas os penduricalhos heráldicos) geriátrico-museológicos de que ele mesmo é já figurativo paradigma de não despicienda evidência.
O 10 de Junho patrioteiro é o Natal dos pançudos que sentem um nojo invencível pelos cristos esqueléticos. É a Páscoa dos imoladores de cordeiros em nome dos deuses de si mesmos. É o Ramadão do jejum dos outros. É a Torah dos mosaicos caça-níqueis. É o Carnaval dos Infiéis ainda não Defuntos. E é uma tragifarsa que me sarapinta a alma de uma invencível pitiríase versicolor contra que não encontro em lugar algum qualquer unguento de largo espectro de acção fungicida.
Pretendo, todavia, perorar-vos agora a propósito de algo bem diferente. De algo, não - de alguém.
Mais de seis décadas a fio, foi, sem metáfora, cerâmico. Pintor cerâmico. Invencíveis eram a finura do seu traço e a fineza do seu trato. A filete de ouro, debruava em perfeito torno circular o rebordo pousa-lábios da chávena de fina faiança. Esponjava a seco a puríssima e alvíssima nuvem branca no céu azul(ejo). Agnóstico por lucidez, a chacota ou sobre vidrado, gravurava painéis em que pontificavam os santos simples e humildes tão ao gosto dos crentes humildes e simples também: São Pedro com suas chaves, D. Fuas acossando o veado, Santo António reparador de bilhas e de hímenes, a Rainha Santa prestidigitadora de pão e rosas, o São José a fazer de padrasto manso, a Sãozinha da Abrigada, o mansarrão Padre Cruz, o Irmão Doutor Souza Martins dos milagres de cera e mármore cuja estátua ainda hoje pontifica no olissiponense Campo de Santana, hoje dos Mártires da Pátria.
Nenhum 10 de Junho, muito menos Cavaco algum, o poderia macular, a esse operário-artista, de falso preito o peito. Nunca.
Esse pintor era o senhor Daniel. Meu Pai. A morte dele escaqueirou-me, é verdade. Mas a memória dele é a minha cola de cada dia. Por quanto neste mundo é sítio, é por senhor Daniel que hoje a mim me tratam.
 Por isso lhe escrevi isto:

O senhor é o meu Pai.

Nada me faltará.

sábado, 14 de março de 2015

Inauguração do CartoonXira 2015


 Fotos dos artistas: Pawel Kuczynski (Polónia), António, Augusto Cid, Antonio Jorge Gonçalves, Cristina Sampaio, António Maia, Carlos Brito, José Bandeira, Henrique Monteiro e Vasco Gargalo
 Augusto Cid
 O Humor de Brito
 Bandeira a Ant. Jorge Gonçalves
 Vistas do Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira onde está a exposiçlão patente até 10 de Maio de 2015


terça-feira, 10 de março de 2015

Humor de Lailson


Tha International Cartoon Contest - Haifa - Israel 2015


Exp. Int. Cartoons - Os Direitos dos Trabalhadores a traço de humor no Museu Municipal de Arqueologia de Silves - 14 de Março a 9 de Maio 2015


Organização PCP - Produção Humorgrafe

CARTOONXIRA - 2015

 DE 14 de Março a 10 de Maio


Rosário Breve Graça agradecida por Daniel Abrunheiro

Escrevo hoje sob um céu muito puro, desses céus totais, absolutos e ubíquos cujo azul chega a doer em seda. Raro, um fiapo de nuvem a oeste: fumo branco, dedada de neve não mortífera. Não chega aqui, deo gratias, o fragor estúpido dos carnavais, as idiotas tranquibérnias de machos travestidos sem graça nem mistério de mulheronas hirsutas (quantos não tirarão hoje do armário o esqueleto da sua pederastia reprimida?).
Há sossego, a brisa penteia & despenteia a seu bel-talante o que por aí vai de orquídeas, gardénias, chitas de senhoras. Ronrono ao sol da praça a digestão de enchidos endógenos com que me apancei a tulha. Longe, um amigo (que agora pertence ao MEO) faz anos. Outro amigo (que agora pertence à NOS) fez uma biopsia. Andamos nisto.
De cediça ossatura, um velho osteoporótico atravessa pela ponte de ferro o canal fluvial. Vai a pensar em cenas de há décadas, como aliás também a mim me acontece tanto, protagonista de pretéritos só já. Sobre ele, o sol português dardeja suas radiantes frechas termonucleares. Por aqui, o anho sacrificial grego não tem de morder o pastor alemão. Não é uma paz feita de genuflexão ante o bezerro-de-ouro. A teratologia da coisa é outra.
Todavia, a entristonhar esta fotogravura verbal surge um homem-anúncio: de farpela plástico-amarela pejada de gritantes maiúsculas pretas, roga-nos ele que saibamos como vender-lhe o nosso ouro e as nossas eventuais pratas avoengas. É rapaz já descriado, fará publicamente aquela figura para comer, não sei, por carnaval não será, suponho mas não sei. Ei-lo além já, amarelejando a passadeira à pré-rotunda da velha fábrica de farinhas. A visão troca-mo de imediato por uma fêmea de madeixas roxas que lhe ficam mal – como se alguém lhe tivesse vomitado na cabeça. É de joelhos agudos como álgicas pontadas de papagaio úrico. O olhar brilha-lhe qual moeda nova, porém: esteve com amigas velhas a beber chá de catorze graus, daquele que leva mais branco. É senhora de opiniões tipo TV-cassette, useira & vezeira de fatalismos zodíacos fundamentados, tão-só e afinal, na falta de homem. Conheço-as destes anticarnavais: explora um negócio de unhas pintadas num desvão de escada-urinol-dos-aflitos ali perto da Sé.
Entretanto, a Grécia recusa-se a ser, para já, como as barreiras do planalto santareno. Em fúria, o furão teutónico brande índex-ultimatos de má-fé ariana & pior consciência histórica. Os acólitos portugas rezam, de joelhos naturalmente, à cruz (gamada). Mas por aqui não. É que estou sorrindo à epifania, galeri’afora, do casal de carrinhos-gémeos a quem a lotaria da genética brindou com dois clonezitos de chupetas geminadas. Homem-senhora-menino-e-menina: bonito de se ver, a este sol. Que a saúde nunca se furte ou escasseie a este baralho de quatro naipes, de trunfo todos eles.
Pela avenida passa ora um carro de aparelhagem sonora stum-stum-stum-stum. Condu-lo um pardal imbecil de perfil mumífico à Ramsés II. Vontade minha de autuá-lo com Bach até 2042. Também ele passa e se dissipa, porém. A calma retorna à gravura, pacificadora e materna como flanela mental.
A minha verdade íntima, no entanto, é que quase não tenho pensado noutra coisa senão na biopsia que o meu amigo fez, ou lhe fizeram, por estes dias. Ao pé da faringe dele, nem alemanhas nem grécias contam seja o que for.
É que esse amigo é, por assim dizer, meo.
Ele e eu somos nos.

Ou assim: meo gratias

sexta-feira, 6 de março de 2015

Crónica Rosário Breve - A vida é só hoje por Daniel Abrunheiro


O meu País já ontem era tarde. E amanhã não será cedo.
Outras formas haveria de dizer isto – mas não as quero. Quero dizê-las assim. E digo.
Nestes mais recentes dias, desavim-me comigo mesmo um pouco mais do que de costume. Pus-me por aí dias a fio sem meta nem retorno, a pé e com a mesma roupa. Calcorreei vastidões que só com muita generosidade podereis imaginar. Um trecho do desconsolado périplo foi rente à minha terra original. De novo me tomaram os olhos as mastodônticas estruturas industriais em ruínas. Abandonadas pela cobiça e pelo anti-humanismo de meia-dúzia de yuppies criminosos, são hoje carcaças grotescas que espelham sem ilusões o avesso do progresso. Sei de cor as famílias completas que nelas labutaram para comer. Hoje, sei de cor os desempregados sem idade para sonhar com mais nada, os reformados da uva-mijona, os novos que por aqui não ficam.
A TV, todavia, continua a ladrar mentiras felizes. Há carnavais por todo o lado e por todo o ano. A populaça gosta que lhe façam o serviço pelas costas, na condição de um bocadito de vaselina primeiro. A anemia dos sistemas de ensino, de saúde e de justiça terceiromundiza-nos a todos, mas nem todos ligamos muito à evidência. As autarquias promovem festarolas de sopas e de espinhaços de bacalhau com aquela presunção de fartura geral que é rasca e que é estúpida e que é mentirosa e que não vale uma buzinadela tripeira das mais sonoras. Aparecem senhoras lambuzadas de banhas lustrais a dizer coisas vãs e flatulentas como ouviram dizer nos programas pimbas da manhã e da tarde e da noite e amanhã o mesmo. Aparecem autarcazitas burros como testos a apregoar moralidades de papelão que eles são os primeiros a não seguir. Professorazitas que não lêem. Jornalistazitos que nem informam nem se informam. Condutores sem o mínimo lampejo de civismo ensanguentando as estradas na maior impunidade e na maior inconsequência. Casamentos e mancebias que, desfeitos, resultam como se por lógica simples em mortandades de faca e caçadeira. Os raios do Diabo, enfim, numa terriola de procissões raquíticas e de santos do caruncho.
Sinto que a crónica me está a sair azeda. Falemos de andorinhas. Ontem vi algumas. Apesar de tudo, apesar do País, das bestas da economia, dos avatares de tanta merdice, o céu deu-me andorinhas. Não eram muitas, mas para mim chegaram como mais do que suficientes. Contra o firmamento, que então era da cor da folha-de-flandres, traçavam elipses molhadas de tinta-da-china. Rápidas, diligentes, bailarinas, como se ébrias. Foram a minha recompensa e foram a minha alegria por alguns minutos. Sabia que acabaria por escrevê-las, como sei que um dia tudo se nos acaba, a começar pela tristeza e pelo se calhar mau hábito de andar por aí a estrangeirar o coração.

Mas ontem, por instantes, não.