terça-feira, 21 de junho de 2016

O GOLPE DE ESTADO NO BRASIL (impeachment da presidenta Dilma Roussef) PELA PENA SATÍTICA DE LUIZ GÊ

O Brasil está sofrendo um novo tipo de golpe de estado que foi aplicado primeiro em Honduras, depois no Paraguai e, para nossa vergonha, agora é aqui.
Existe muito dinheiro e poder em jogo, e os países ricos, e, em especial, as multinacionais não iriam deixar que o Brasil conseguisse formar um novo bloco econômico como o dos BRICS que estava começando a se desenhar e que ameaçava e se contrapor à sua hegemonia. Mas o campo de petróleo aqui descoberto vale pelo menos um trilhão de dólares e compensa a ninharia que a Secretaria de Estado americano possa vir a gastar para fazer o que fez, desestabilizar, depor e implantar um governo formado por bandidos para que lhes entregue a riqueza que for do seu interesse.
Desde o começo do ano voltei a fazer charges políticas (que não fazia desde o fim da ditadura militar em 84) lutando contra essa violência que mais uma vez se abate contra o Brasil e contra um melhor equilíbrio de forças do mundo inteiro, bem como contra a elevação do nível de vida de um  povo que já muito sofreu sob essa oligarquia truculenta que é a brasileira. Estou mandando algumas charges que fiz desde o acirramento do golpe (que na verdade se desenrola há muito mais tempo) e está sendo concertado pela mídia (dos maiores milionários brasileiros), pela justiça, que sempre foi muito classista, e que é fácil de manipular, pois um pequeno número de seus membros é suficiente para que os juízos sejam dados, e pelo congresso, que é o pior da nossa história, com mais da metade dos congressistas respondendo a processos, às vezes até por assassinatos (e que foi alçado ao poder também com a ajuda da mídia, é preciso que se diga)!
Este material foi produzido em um ambiente angustiante e kafkiano, de alguém que vê a nossa jovem democracia mais uma vez sucumbir aos golpes truculentos de uma oligarquia que jamais pensou na construção de um país, mas apenas no vil metal, para o qual desde sempre se vendeu às custas do sofrimento alheio.
Sei como as charges (não sei se vocês usam esse termo aí, ou se usam apenas caricatura?), precisam do contexto para serem compreendidas. Por isso comecei a escrever e a coisa virou uma espécie de resumo dos acontecimentos até agora. Se for necessário que eu explique alguma não hesite em me mandar uma mensagem.
Essa BD fala sobre o poder midiático e a dificuldade que o indivíduo tem, caso pense de forma diferente. Isso é o pano de fundo em que se desenrola todo o episódio do impeachment/ golpe atual. Era muito difícil emitir uma opinião e não ser, imediatamente, escorraçado pelos demais.
O símbolo da rede Globo, a mais poderosa e onipresente estação brasileira de TV é uma esfera com uma outra inserida numa tela da TV e que, na charge/ caricatura  abaixo aparece em azul. Seu dono é um dos mais, senão o mais rico dos brasileiros. A Globo foi criada para dar suporte à ditadura militar nos anos sessenta. Assim como ela mais duas das emissoras também o foram. Essa charge, a meu ver, resume toda a correlação de forças e a própria situação em que nos encontramos.
A soma das duas charges anteriores produz essa abaixo. Foi uma verdadeira epidemia de linchamentos morais e reais conduzida pela classe média e movida por esse incutido ‘moralismo’ midiático.
Nas manifestações contra o governo, amplamente apoiadas e divulgadas pela mídia, as pessoas, costumavam usar camisetas da Confederação Brasileira de Futebol, órgão totalmente corrupto, cujo presidente, José Maria Marin, foi preso na Suíça e enviado para os EUA para responder a processo. Era uma verdadeira ironia, que aqueles que protestavam contra um governo, cuja presidente era totalmente honesta, vestiam esse símbolo da própria corrupção  que hipoteticamente atacavam.
Mas o discurso dessas pessoas logo se revelou em toda a sua hipocrisia, quando a classe política que era o seu alvo predileto se transformou em força para derrubar o governo de esquerda que  
O congresso se tornou a principal forma de realizar o impedimento da presidente Dilma. Todos os partidos que haviam aderido ao governo do PT apenas por motivos fisiológicos, como o PMDB, passaram para o outro lado e, inclusive com medo de serem condenados na justiça, já que eram, em sua maioria réus de um ou mais processos. Engrossaram assim as fileiras pró-impeachment. O vice presidente Temer virou a casaca, quando percebeu que se tornaria presidente, mas também o fez por ser homem de Cunha, um super vilão (com cara de rato) que conseguira se tornar o presidente da Câmara dos Deputados. Esse super bandido, com milhões de dólares na Suíça e em outros paraísos fiscais, manobrava quase a metade da Câmara, repassando dinheiro para essa gentalha que representa, entre outras, siglas de aluguel, bancadas religiosas protestantes totalmente caça níqueis, argentárias, especializadas em tirar dinheiro dos fiéis. Quando o PT se negou a apoiá-lo ele aprovou o impeachment da presidente Dilma e deflagrou o processo. Saltou aos olhos o fato de que a Justiça nada fez até que ele tomasse essa medida. Apenas o retirou do cargo de presidente do congresso quando o ‘trabalho’ estava feito.


Veio então o infame dia 16 de Abril, quando um congresso de bandidos, incentivado pelas manifestações pseudo-moralistas apoiadas pela mídia fizeram o maior papelão da história política nacional, votando o impeachment da presidenta Dilma Roussef, pessoa sem uma única mancha em sua carreira política e profissional. O detalhe ficou por conta dos votos dos deputados, que repetiam hora após hora o mesmo discurso absolutamente monótono, medíocre, hipócrita e revelador: “ pelo meu filho”, “ pelo meu neto”, “ pela minha mulher”, “pelo meu sobrinho”, enfim, por “eles mesmos”. Às vezes diziam “pelo meu Estado”. Mas houve aqueles que disseram que o faziam por algum militar torturador da época da ditadura militar.







Uma das forças que impulsionou o movimento de impeachment, ou melhor, o golpe, foi outra vez, assim como em 1964, na ditadura militar, a FIESP a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Essa federação já pode ter sido mais importante. Hoje, acho bastante misteriosa sua representação. Quem será que ela representa? Digo isso, porque a indústria brasileira sofreu dois processos de desmantelamento brutais. Um foi no final da ditadura, que, sob o comando do FMI, a indústria brasileira, inclusive a estatal (trens, navios, material pesado, que aliás começaram a ser reativadas no governo do PT), sofreu um golpe devastador. O outro momento, que foi o tiro de misericórdia, foi no governo Fernando Henrique Cardoso do PSDB que, realizando as recomendações neoliberais do Conselho de Washington, retirou de um só golpe as medidas protecionistas e escancarou o país para as importações e a entrada facilitada de indústrias estrangeiras multinacionais. Mil e duzentas empresas nacionais de tradição, renome, mercado conquistado, desapareceram, falidas ou vendidas para multinacionais a troco de banana. Desconfio que a FIESP represente, hoje, apenas indústrias que executem serviços menores para as multinacionais. Pois bem, a FIESP realizou uma campanha acirrada pelo impeachment e usou como símbolo um pato inflável gigante usado nas manifestações e cujos olhos tinham em seu lugar cruzes. No peito do pato tinha uma inscrição: “não vou pagar o pato”. Isso era uma referência a um imposto, um dos raros impostos claramente justos, que no caso era sobre os cheques. Era justo porque era pequeno, e quem pagava mais eram os ricos que dão mais cheques e maiores (ou seja, eles da FIESP, por exemplo). Todo mundo hoje em dia usa cartão. Esse imposto ia diretamente para a área de saúde que é uma área muito carente no Brasil. Quando o PSDB, um dos principais partidos contrários ao governo do PT conseguiu derrubar o imposto, esse dinheiro que era crucial, deixou a área da saúde sem uma parcela importantíssima de recursos. Esse símbolo do pato, tão mal compreendido pela classe média, mostra como os poderes plutocráticos do Brasil conseguem manipular essas pessoas que se acham “esclarecidas” por lerem jornais (de propriedade dos ricos), que, é lógico, os manipulam como querem, geralmente apelando para suas crenças conservadoras. O, literalmente, patético é que pato (que virou o símbolo das passeatas golpistas) no Brasil, é gíria para trouxa, bobo. E, pior, o pato inflável foi copiado do pato de um artista europeu que havia exposto aqui no Brasil exatamente esse mesmo pato inflável de sua criação e que representa um daqueles patinhos com os quais as crianças brincam na banheira. No meio das manifestações da direita com esse pato, o artista se manifestou horrorizado pelo uso de seu trabalho de forma totalmente desautorizada (e pela direita, ainda por cima).


A revista semanal que virou um panfleto caricatural. Acabou o jornalismo isento no Brasil.

Atrás do pato, o prédio da FIESP na avenida Paulista, em São Paulo.
Mas a pior coisa que aconteceu, a mais infame, até o momento, foi a oligarquia ter colocado a democracia ‘no prego’ sem ao menos termos um juízo concreto sobre o mérito das questões apresentadas pelo impeachment de um presidente. Jamais houve um consenso. Centenas e centenas de juristas já apresentaram ou subscreveram demonstrações mostrando que não há base para um impedimento. Mas isso até agora não foi considerado pelo Supremo Tribunal Federal, que até agora apenas deu seu aval para as resoluções da câmara e senado, totalmente políticas e não legais, e muito provavelmente não será. A nação ficará sob tutela de gente sem um único voto, entregando o país para a sanha imperial, e quando vier esse ajuizado, será feito por meia dúzia de juízes do supremo. Ou seja, nada mais fácil de manobrar quando se tem o poder econômico e financeiro à disposição, como têm os poderosos interessados, nacionais e estrangeiros.
Impressionante como da classe média para cima, o pensamento nada tem a ver com o país, ou com os brasileiros. Até os médicos que tradicionalmente sempre foram das classes mais abastadas, da classe média para cima, tem o mesmo pensamento. Meu Deus, que luta insana e inglória!
Por fim, um pouco da nossa história, que não tem nada de alegre. Não sei como é que há o mito do brasileiro cordial.



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