domingo, 23 de fevereiro de 2014

Crónica Rosário Breve - Equivalências adversativas em nome do Diabo por Daniel Abrunheiro

 Chamar universidade à Lusófona é o mesmo que chamar doutor ao Relvas. Fé na Virgem e o Diabo a correr. É como o Vara, por uns meros robalos, apanhar-se doutorado em Piscicultura. A Educação estropiada em antros afins, da pré-primária ao superior. Colegiais contratos-de-associação com paralelismo-pedagógico. Milhões públicos ao desbarato privado. Licenciaturas falsas como Judas pago a lentilhas corrupto-milionárias. Euromilhões do bacoco de província capaz de erguer um gimnodesportivo de cartolina para o futsal do 12.º sem esforço. Diplomas de carne-picada à bolonhesa segundo o tratante Tratado de Bolonha: faço de ti doutor-engenheiro mais depressa do que a desAssunção inEsteves há-de perceber o que seja um prefixo de negação. Para um imbecil académicoa praxe é um direito fundamental; para um imbecil jota todos os direitos fundamentais são referendáveis – imbecil por imbecil, a coisa compõe-se. Mas no dia em que a deficiência mental for por lei equiparada à deficiência motora, os palácios e os terreiros-do-passos vão ter uma data de rampas. Deixa-me ouvir o que diz o Marcelo que sabe disto. Especialista, ele também, do culto do instantâneo, da retórica frívola, da papagueação de encher-olho com a boca cheia de nada. Já tivemos Presidentes da República por bem menos. O Capucho corrido à pedrada pelos estalinistas cor-de-laranja. Mas o Rui Nunes, in Uma Viagem no Outono, a dizer que “O futuro onde estamos tem a iníqua alegria dos sacanas.” Pois estamos. Pois tem. Mas o Júlio Isidro, no Diário de Notícias de 17 de Fevereiro do corrente, a dizer que “Só as pessoas felizes é que são livres.” Pois são, elas sim, mas então aqui a gente vai toda presa, pois que a tristura nos algema olhos e mãos. O Stig Dagerman afiançando algures que “O jornalismo é a arte de chegar tarde o mais cedo possível.” Mas ser muito mais fácil o Cardozo marcar com êxito um penalty decisivo do que chamar jornalismo, por exemplo, ao Prós & Contras, programa em que tudo o que possa ser sério é arquivado para amnésia futura enquanto a sacerdotisa-de-serviço se arregala e saracoteia. A nossa dignidade derradeira estilhaçando-se em irrecicláveis despojos de granada-de-fragmentação. A República ser constitucionalmente laica mas ter e pagar na mesma uns milhares de euros ao, aliás reformado, próximo bispo-capelão das Forças Armadas. O País quase todo a barafustar contra o atraso do Porto naquele jogo da Taça da Liga – mas quase ninguém a vituperar o atraso de décadas do mesmo País de patuscos, i.e., Nós quase todos. O cómico-trágico desta pandilha litoral que tem por nome Portugal estar escarrapachado na implacável sucessão de encerramentos de tribunais, centros de saúde, escolas, oficinas – mas, só por nevar da pala de um campo-da-bola, ai-Jesus-que-falta-o-ar à carneirada. E tudo ilibado no caso dos submarinos: pelo que porta-aviões-da-Justiça ao fundo. Mais o paradoxo pulha de agilizar o despedimento com uma pata enquanto a outra (oh mas quão blandiciosamente!) drapeja a bandeirola do milagre económico. A Virgem correndo e o Diabo a rir-se. À privatização das águas, há-de seguir-se a do ar, a do sol, a da lua e a das mães deles, até agora públicas. As mães. Venda-se os Mirós todos mas não nos lixem a Joana Vasconcelos, essa nossa kitsch de últimos-socorros para basbaques parisienses. Explica-desenhar a cores aos drogados deste morredouro-de-seringas que o Caran d’Ache rima com haxe mas não é para fumar. A maldição de Circe, que foi a de transformar os homens em porcos, continuando viva e esperneante no Orwell dos porcos-ao-poder. A literatura de hipermercado acabando de esvaziar as mentes das professoritas do tal ensino particular sempre tão mortinhas por beijocar a boca-de-sapo do Sousa Tavares a ver se descobrem a que é que sabe a beiça de um príncipe-do-nada. A tal Lusófona a dar cobertura ao bisonho Bisonte-­dux-badameco do Meco e ameaçando processar os pais dos afogados por calúnia e atentado ao bom-nome da instituição. A Virgem a querer saber – Mas qual bom-nome? – e o Diabo a dizer-lhe – O meu, querida, pois de quem querias tu que fosse?

E tudo isto nos causar uma estranha espécie de surdez diurética, que consiste no já nem os podermos ouvir mas nos mijarmos a rir de todos eles na mesma.

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