domingo, 20 de outubro de 2013

Lançamento do livro de Casimiro Simões - “Cornos ao sol – Agonia do carneiro velho na troika de Vale Tudo” no dia 26 de Outubro na Lousã

Tenho a honra de vos convidar para o lançamento do meu último livro, a realizar na sede da Filarmónica Lousanense, no próximo dia 26 de outubro, sábado, às 15 horas.
A apresentação da obra, intitulada “Cornos ao sol – Agonia do carneiro velho na troika de Vale Tudo”, será da responsabilidade do advogado e escritor António Arnaut, fundador do Serviço Nacional de Saúde, que assina o prefácio, e do historiador e professor universitário Amadeu Carvalho Homem.
Edição do autor, mantendo o formato de livro de bolso, “Cornos ao sol” encerra uma trilogia satírica que iniciei há quatro anos, para assinalar o centenário da República, com a publicação de “Com as botas do meu pai – Pegadas do poder autárquico na vila de Vale Tudo”, a que se seguiu, em 2010, “Campanha bufa – Porco no espeto na safra de Vale Tudo”.
Trata-se de uma coleção humorística, com capas e ilustrações do artista lousanense Carlos Alvarinhas, concebida a partir de um olhar crítico sobre o estado da democracia e da República sonhada em 1910 – depois retomada, com o 25 de Abril de 1974 – e das perversões do exercício do poder em Portugal, nos seus diferentes patamares de decisão, desde logo ao nível das autarquias.

Saúde e bom humor!

Casimiro Simões

De seguida o prefácio, de António Arnaut, e uma introdução ao livro, que redigi com o título “De rir e chorar por mais”.

Prefácio
Este livro encerra uma “trilogia satírica republicana” iniciada em 2009, Com as botas do meu pai, e prosseguida em 2010, com Campanha bufa, sobre o exercício do poder autárquico em Portugal, “cantiga assumida de escárnio e maldizer”, como o autor nos esclarece na nota introdutória do primeiro volume.
Os Cornos ao sol rematam o louvável propósito de prestar “homenagem à República Portuguesa sonhada em 1910, aos seus protagonistas mais íntegros e a todos os que preservaram o ideal republicano nestes cem anos”, como se explica na contra-capa do segundo volume deste tríptico.
Escrita com a tinta áspera da verdade, como convém à ficção – a ficção é o rosto burilado da realidade – a obra tem como espaço físico e humano o município imaginário de Vale Tudo, que é, aliás, o espelho reflector de certas autarquias, embora, felizmente, haja outras que têm resistido ao vírus arrasador do negocismo e da mediocridade.
Vale Tudo, como o nome indica, é, caricaturalmente, uma coutada privilegiada de malfeitorias e nepotismos, onde o cacique local se vai perpetuando “democraticamente”, perante a indiferença de alguns e a conivência de outros, apesar de fustigado por aqueles que não desistem, como o jornalista Casimiro Simões, de reconduzir a República ao seus valores matriciais e a ética à política, que é o seu lugar preferido, como escreveu Hegel.
Todos nós conhecemos os Onófrios Fanfarrões e seus lambe-botas, e os especuladores Batanetes e seus serviçais, que os dois primeiros volumes retratam de forma burlesca e que pairam neste terceiro volume como sombras espectrais. O autor, porém, não esquece a gente séria que ainda resiste às seduções da vaidade, do mando e da pecúnia.
Ao ler este último tomo, que completa a empresa de celebrar o centenário da República, lembrei-me, com a devida diferença de planos, das célebres catilinárias e verrinas de Cícero e das Farpas de Ramalho e Eça, o que mostra como a sátira político-social é tão antiga como o poder, porque os abusos e desvios a que está sujeito lhe são inerentes como as sombras à luz.
Contudo, é preciso não descrer das virtudes da democracia e na sua capacidade de regeneração, de que a liberdade de pensamento e de imprensa é instrumento precioso, porque permite denunciar os atropelos à legalidade e ao bem comum, zurzindo naqueles que se embriagam com o poder e traem a vontade soberana do povo que os elegeu.
Este volume é a pedra de fecho dos anteriores, expressão que me foi sugerida pela nova personagem Pedro Pedra. Os figurões ficaram pelo caminho e só restam três sobreviventes “do ataque fulminante dos mercados”, de que a troika é a mão pesada e desumana.
Os sobreviventes são um burro, um porco e um carneiro, naquele curral “do honrado Joaquim Lua, onde o mato com bostas várias se fazia riqueza nacional”. Estes bichos têm o simbolismo que o leitor lhes quiser dar, à semelhança dos outros Bichos de Miguel Torga.
As bostas representam, metaforicamente, se não me engano, a pureza sobrevivente a tão indecorosas personagens que se movimentam no universo ficcional de Casimiro Simões. Servindo-me das palavras do grande escritor citado, “ao cabo, esta animalidade toda, de tão natural, acaba por ser pura e limpa como a bosta de boi”. (Diário, 22/1/1936).
Eis aqui um pequeno grande livro que dá gosto ler, porque fala de figuras e figurões nossos conhecidos e expressa uma realidade crua deste tempo insano. Embora reportada ao poder local, a parábola do drama maior do poder central, dominado, em toda a Europa, pelo capitalismo financeiro que vai destruindo, implacavelmente, o Estado de Direito, enquanto o povo não travar a sua voracidade predadora.
Misto de libelo, sátira e fábula, esta trilogia é também – e principalmente – um testemunho construtivo e uma tentativa cívica de regenerar a democracia e a República, denunciando os golpes que lhe têm sido desferidos.
Vale Tudo é a metonímia de um país aviltado, vendido a retalho ao estrangeiro, onde as exceções confirmam a regra, como num céu plúmbeo uma estrela acesa anuncia que a escuridão não é total e que poderá haver um amanhã limpo e redentor. Tenhamos, pois, esperança. A esperança lúcida que desperta a vontade e dá força à ação.
Coimbra, 5 de Outubro de 2013
António Arnaut
(O autor do prefácio escreve segundo as regras do antigo acordo ortográfico) 
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De rir e chorar por mais

Com a alegria de ter cumprido um projeto a que individual e livremente pus ombros, encerro com este livro a trilogia satírica iniciada há quatro anos, com a publicação de Com as botas do meu pai – Pegadas do poder autárquico na vila de Vale Tudo.
Uma ousadia cívica que me acarretou alguns dissabores, pessoais e profissionais, desencadeados por inimagináveis preconceitos retrógrados de terceiros e perseguição ilegítima por razões ideológicas. Mas o mais importante é levar em frente este combate pela cidadania, contra ventos adversos, poderes mesquinhos, medos vários e cobardias, que me proporcionou, sobretudo, momentos únicos de bom humor e amizade. “Meti-me em sarilhos, mas também tive grandes barrigadas de riso” – assim foi comigo, logo em 2009, quando editei o primeiro volume desta aventura, também literária, que no ano seguinte transformei em tríptico de homenagem à República, para assinalar o centenário da revolução de 1910.
Faço minhas aquelas palavras do psiquiatra Louzã Henriques, etnólogo por devoção, patriota e orador de múltiplas “conversas vadias”. “Barrigadas de riso”, isso mesmo. Assim falou o antifascista da Serra da Lousã em recente apresentação, em Coimbra, da obra Manuel Louzã Henriques – Algures com Meu(s) Irmão(s).
Termino esta trilogia com o livro Cornos ao sol – Agonia do carneiro velho na troika de Vale Tudo, retomando algumas personagens das anteriores obras da coleção e criando outras, como o foragido Pedro Pedra, presidente da Junta de Freguesia do Penedo Catapereiro. Dando agora primazia, no entanto, aos estreantes burro Orelhudo, porco Beiçudo e carneiro Cornudo, únicos sobreviventes do ataque dos mercados financeiros ao território de Vale Tudo. Na montanha, os três animais dão novo rumo à narrativa, interagindo em triângulo na rede social E-colibuk, após terem fugido do curral triangular, na loja térrea do velho Joaquim Lua. Vale Tudo é uma terra deserta, sem homens, nem mulheres. Apenas animais de quatro patas. Renovo, neste volume, um olhar crítico sobre a República e o mundo, agora sob o signo do carneiro, e regresso aos mistérios da minha infância.
O livro é dedicado a várias figuras, locais e regionais, que marcaram a sociedade ao longo dos séculos XX e XXI, em nome da República, do progresso coletivo, da cultura e dos direitos humanos: Orlando de Carvalho (antifascista, catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, FDUC), Augusto Monteiro Valente (militar de Abril e investigador), Osvaldo Rosa (opositor à ditadura, autarca e dirigente associativo na Lousã), Ti Joaquina da Catraia (notabilizou-se no auxílio aos viajantes que outrora atravessavam a Serra da Lousã), Maria José Fantina (tem-se destacado na preservação da cultura popular), Augusto Paulo (fundador e antigo diretor do jornal Mirante, de Miranda do Corvo), Artur Brás (um dos fundadores do Ateneu de Coimbra, em 1940), João Rodrigues (democrata, músico e cronista do jornal Trevim) e Manuel Lopes de Almeida (herói da Rotunda, na revolução de 1910, natural da Castanheira de Pera). Constitui também homenagem ao Ramal da Lousã e contributo cívico para a sua reativação (com evocação póstuma dos ativistas da ferrovia José Vitorino de Sousa, Ramiro Carvalheira e Américo Leal), à República dos Kágados, que em breve faz oitenta anos, onde morei enquanto estudante da FDUC, e ao Museu da República e da Maçonaria, em Pedrógão Grande.
Nesta etapa final, são muitos os amigos e amigas a quem quero agradecer – intelectuais, músicos, obreiros da área cultural, trabalhadores gráficos e jornalistas, entre outros – muita da força que me deram para vencer as adversidades.
Estou desde logo grato à família, aos camaradas com quem trabalho mais de perto, na agência noticiosa Lusa, além de jornalistas de diferentes gerações, com os quais tenho vindo a trilhar e a partilhar os caminhos da curiosidade, das dúvidas e da constante aprendizagem. Em mais de trinta anos, foram alguns deles o meu amparo ético e fraternal nos momentos difíceis do exercício da profissão, em que temos apenas duas opções: avançar ou desistir.
Na maior parte das situações, em diferentes órgãos de comunicação que tive a honra de servir, a decisão desse coletivo a que chamamos redação foi cumprir, sem subserviências, nem venais pratos de lentilhas, o dever e o direito de informar, com a sensatez que, muitas vezes no fio da navalha, as circunstâncias exigem e permitem, honrando o Código Deontológico do Jornalista, as leis do Estado de Direito democrático e a Constituição da República.
Neste momento de júbilo – mas desejando eu estar longe da jubilação! – terei de saudar especialmente o escritor e advogado António Arnaut, pela sua fraternidade ativa, acompanhando desde a primeira hora esta “empresa de celebrar o centenário da República”, como afirma no prefácio.
Recordo a corajosa e bem-humorada intervenção de António Arnaut na apresentação do meu livro de estreia, Com as botas do meu pai. Uma memorável jornada cívica, em 31 de outubro de 2009, na Lousã, em que se destacaram também o ator Adriano Carvalho e o médico Louzã Henriques, autor do prefácio.
No ano seguinte, de novo na terra onde nasci, foi a vez de Campanha bufa – Porco no espeto na safra de Vale Tudo, com apresentação a cargo do historiador Amadeu Carvalho Homem, que escreveu o prefácio, e da jornalista Leonete Botelho. Obrigado, amigos!
Neste tributo coletivo, relevando diferentes colaborações e incentivos, incluo Adelino Castro, Isabel Garcia, Luís Quintans, Carlos Fraião, Augusto Paulo, Carlos Marta Ferreira, José Luís Câmara Alves, Ramiro Simões, João Damasceno, Bernardino Nunes, Carlos Alvarinhas e Jorge Seco, entre muitos outros. Gratidão também à Rádio Dueça e aos jornais Trevim, Diário de Coimbra, Diário As Beiras, Campeão das Províncias e Notícias de Coimbra, a que junto o Sindicato dos Jornalistas, o Sindicato dos Professores da Região Centro, a Fundação ADFP, o Clube da Comunicação Social de Coimbra, a Humorgrafe, a Banda Futrica, a Loja do Sr. Falcão, o Ateneu de Coimbra, o Licor Beirão, a Livraria Magro, a Ediliber, a Biblioteca Municipal da Lousã e a Sociedade Filarmónica Lousanense.

Cornos ao sol para rir e chorar por mais.

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