Comissariado por:
Osvaldo Macedo de Sousa
A criação do mundo parece tão
perfeita e equilibrada que é encarada como um projeto divino, no entanto, o
Homem, com todo o seu narcisismo e orgulho, desde que tomou consciência do seu
ego, procurou competir com a natureza, falsificando, por vezes, os materiais,
as normas, o projeto básico e alterando a seu gosto os fundos (paisagísticos,
sonoros, decorativos…) do seu quotidiano.
Cenografar a vida é a essência do
ser artista, apesar dos defensores da “arte pela arte” preferirem enquadrar-se
como deuses da criação pura. Não há criações puras e, muito menos,
originalidades virgens, porque queiramos ou não já foi tudo inventado pela
natureza, cabendo ao Homem apenas o papel de redescobrir essas criações, visões
e pensamentos, dando-lhes novos figurinos e novas cenografias que as travestem
em originalidades. Se a vida, em si, é simples, a do Homem acaba sempre por ser
uma teatralização, uma reconstrução dramatúrgica onde se dá um papel
fundamental à tragédia, envergonhando-se da comédia que está na origem da vida,
o que pela manipulação política nós dá a tragicomédia do quotidiano.
Nessa organização de espaços, tempos
e personagens… para além das condicionantes geográficas, tradições culturais, sociais,
religiosas, politicas… há toda uma variedade de intervenientes que se impõem
como controladores, como criadores. Muitos deles nem artistas são, antes pelo
contrário, como os falsários políticos, economicistas… mas os artistas ainda
conseguem ter um papel especial na organização deste palco universal, mais não
seja como contestatários das estruturas assentes nessa manipulação narcísica
dos senhores do poder.
É nessa onda cenográfica do
pensamento humorístico que surge o “caricaturista”, o profissional que transpõe
as ideias, as críticas e as opiniões para o universo da narrativa gráfica. A
estes profissionais, hoje em dia, dá-se várias designações como cartunista,
bandadesenhista, ilustrador… mas o fundo cenográfico nunca deixou de ser um
elemento fundamental nesta comunicação, mesmo quando minimalista. Essa
estrutura complementa com referências historiográficas, conceptualiza espaços,
veste personagens e envolve o pensamento em adereços. A essência desta roupagem
cénica é o apoio na localização do tempo histórico, espacial e temporal para
que a narrativa imagética seja um diálogo mais fácil e direto com o leitor.
Por tudo o que foi dito pode-se
entender a importância da cenografia para a construção humorística, mesmo
quando o texto parece ser a essência da obra. Há artistas que fingem não usar
cenários, apesar de estes estarem minimamente sugeridos, enquanto outros usam a
própria cena para desenvolver a construção da mensagem humorística. Para cada
artista seu estilo, sua opção, razão pela qual selecionamos para esta mostra
três formas diferentes de construção gráfica. Como exemplos da importância
destas opções e destes elementos cenográficos, o AmadocaCartoon decidiu homenagear
o italiano Alessandro Gatto e os portugueses Carlos Rico e Henrique Monteiro.
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