domingo, 27 de outubro de 2013

AmadoraCartoon – 2013 CENOGRAFANDO HUMORES (iniciativa integrada no Festival Internacional Bd da Amadora


Comissariado por: Osvaldo Macedo de Sousa

            A criação do mundo parece tão perfeita e equilibrada que é encarada como um projeto divino, no entanto, o Homem, com todo o seu narcisismo e orgulho, desde que tomou consciência do seu ego, procurou competir com a natureza, falsificando, por vezes, os materiais, as normas, o projeto básico e alterando a seu gosto os fundos (paisagísticos, sonoros, decorativos…) do seu quotidiano.
            Cenografar a vida é a essência do ser artista, apesar dos defensores da “arte pela arte” preferirem enquadrar-se como deuses da criação pura. Não há criações puras e, muito menos, originalidades virgens, porque queiramos ou não já foi tudo inventado pela natureza, cabendo ao Homem apenas o papel de redescobrir essas criações, visões e pensamentos, dando-lhes novos figurinos e novas cenografias que as travestem em originalidades. Se a vida, em si, é simples, a do Homem acaba sempre por ser uma teatralização, uma reconstrução dramatúrgica onde se dá um papel fundamental à tragédia, envergonhando-se da comédia que está na origem da vida, o que pela manipulação política nós dá a tragicomédia do quotidiano.
station por Alessandro Gatto

            Nessa organização de espaços, tempos e personagens… para além das condicionantes geográficas, tradições culturais, sociais, religiosas, politicas… há toda uma variedade de intervenientes que se impõem como controladores, como criadores. Muitos deles nem artistas são, antes pelo contrário, como os falsários políticos, economicistas… mas os artistas ainda conseguem ter um papel especial na organização deste palco universal, mais não seja como contestatários das estruturas assentes nessa manipulação narcísica dos senhores do poder.
Pastor do séc. XXI por Carlos Rico
            É nessa onda cenográfica do pensamento humorístico que surge o “caricaturista”, o profissional que transpõe as ideias, as críticas e as opiniões para o universo da narrativa gráfica. A estes profissionais, hoje em dia, dá-se várias designações como cartunista, bandadesenhista, ilustrador… mas o fundo cenográfico nunca deixou de ser um elemento fundamental nesta comunicação, mesmo quando minimalista. Essa estrutura complementa com referências historiográficas, conceptualiza espaços, veste personagens e envolve o pensamento em adereços. A essência desta roupagem cénica é o apoio na localização do tempo histórico, espacial e temporal para que a narrativa imagética seja um diálogo mais fácil e direto com o leitor.
Passos em Manta Rota por Henrique


           Por tudo o que foi dito pode-se entender a importância da cenografia para a construção humorística, mesmo quando o texto parece ser a essência da obra. Há artistas que fingem não usar cenários, apesar de estes estarem minimamente sugeridos, enquanto outros usam a própria cena para desenvolver a construção da mensagem humorística. Para cada artista seu estilo, sua opção, razão pela qual selecionamos para esta mostra três formas diferentes de construção gráfica. Como exemplos da importância destas opções e destes elementos cenográficos, o AmadocaCartoon decidiu homenagear o italiano Alessandro Gatto e os portugueses Carlos Rico e Henrique Monteiro.

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