O Arquitecto e Cartoonista António Ferreira dos Santos
(F´Santos) faleceu a 24 de Fevereiro de 2016 após prolongada doença cancerígena.
Natural de Cucujães – Oliveira de Azemeis (30/8/1948) licenciou-se em
Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto e exerceu actividade como arquitecto (urbanístico) na
Câmara Municipal do Porto. Desde sempre se dedicou ao desenho de humor e seus
primeiros trabalhos publicados na imprensa surgem em 1971 em “A Voz
Portucalense”. Em 1988 começou uma colaboração regular no semanário “O Regional”
de S. João da Madeira que se prolongou por décadas. Tem também trabalhos publicados
na revista “A Razão” e nos jornais “O Jogo”, “O Público”, “Diário de Notícias”,
“Jornal de Notícias”, “Comércio do Porto”, “O Inimigo”, “Terras da Beiras”, “Trevim
– Supl. Bronkit”…
Realizou exposições
individuais, no âmbito do desenho e da pintura no Porto, Ovar, S.J. Madeira,
Rio Tinto, Matosinhos, Coimbra e Lisboa.
Participou em
diversos Salões Internacionais de Humor no estrangeiro (Croácia, Rússia,
Eslováquia, Espanha, França, Itália, Reino Unido, Turquia e Japão… onde foi
galardoado em 1998 com um 3º Prémio no “V Certame Internacional de Tenerife –
Canárias Espanha”), assim como em Portugal (Vila Real, Porto de Mós, Oeiras,
Porto, Idanha-a-Nova, Coimbra, Penela e Espinho…) tendo sido premiados em 1989
no Salão nacional de Caricatura – Porto de Mós com o Troféu Humor e o Ambiente;
em 1996 com o Prémio Nacional BD de Imprensa, no X Salão Nacional de Caricatura
– Salão nacional de Imprensa – Oeiras e em 2000 com uma Menção Honrosa no I
Salão de Humor de Aveiro. No âmbito da V Mostra de Humor Gráfico de Alcalá de
Henares foi distinguido com o título de Professor Honorífico del Humor da
Universidade de Alcalá de Henares – Madrid em 1998.
Participou em
centenas de Festas da Caricatura organizadas pela Humorgrafe e não só, por todo
o país e em Espanha (Ourense, Madrid…) assim como realizava caricaturas para Livros
de Curso e em eventos de empresas de caricaturas ao vivo.
Bibliografia: para
além dos catálogos de Salões, ou exposições temáticas organizadas pela Humorgrafe
(Rock in Caricatura, Vozes Líricas do séc. XX, Esse ser… Comediante, Humor e
Saúde, “Caricaturistas por Timor, “Paródia & Pastiche, A Censura na
Iconografia e na Caricatura Portuguesa, Humor d’Arquitecte, Comunicar com
Humor, 150 Anos da Caricatura em Portugal, A Luta dos Trabalhadores (pelo
humor), Tolerâncias e Intolerâncias da Humanidade, Humores ao Fado e á
Guitarra, Humor Negro, O Bobo… ) publicou três coleções de postais – “Urbanovisões”,
“Mupivisões” e Mijopostaise; em 2000 publica o livro de cartoons “O Dedo na f’rida”,
em 2002 “Errare Urbanum Est”, em 2007 Cartoonices” e em 2013 “Kito”
Nos últimos anos,
afastado da imprensa, com o pseudónimo de António Sabão cultivou vários blogs
como cartoonisces, Saboonices http://cartoonicesasequela.blogspot.pt/,
http://antoniosabaokito.blogspot.pt/
, http://toonnices.blogspot.pt/ http://caricartono.blogspot.pt/ , http://antoniosabaopintor.blogspot.pt/
Para o seu livro “Dedo na F’rida”escrevi
este prefácio – Reconsiderações à volta de um cartoonista.
Ao longo dos anos tenho
aprendido que nem todfos olham a vida da mesma maneira. Existem os cegos, os míopes,
os astigmáticos… e os humoristas. Contrariamente a todos os outros que por
defeito físico são optimistas e procuram adaptar-se da melhor forma à vida, a
melhor forma de corrigirem o que vêem, os humoristas / caricaturistas são
essencialmente “pessimistas” reconstrutivos.
No caso de F’Santos pode
faze-lo por duas vias distintas, seja pela circunvalação, seja pela cintura
interna, acabando no Cerco à sociedade, que neste caso concreto é o Cerco do
Porto. Quero eu dizer que o caricaturista é pessimista porque olha sempre com
comiseração para os outros. Olha com compaixão para todos aqueles que
necessitam de pessimistas como interlocutores, para verem a realidade de uma
forma irónica, satírica ou humorística. Para desvendarem a realidade nua e
crua. /…/ António Augusto Ferreira dos Santos é um desses pessimistas que
nasceu com o olhar “deformado” e que, desde novo, assumiu a missão de
missionário da verdade irónica. Com a idade, ele tentou comprar esses óculos que
se vendem nas farmácias, ditos milagreiros, mas nem assim deixou de ver o mundo
deformado no grotesco do dia a dia.
/…/ Ferreira dos santos é um
cultor de amizades, é um artista do belo pelo exagero. Um activista da estética
sempre pronto a colaborar, a apoiar com a sua arte todas as causas nobres, a
lutar pelo dignidade de um género estético, por vezes tão denegrido e
incompreendido. /…/ A sorrir e por vezes a chorar com raiva, denuncia os
atropelos dos humanos, desmascara as incongruências dos que para subirem no
grau da animalidade social, para ganharem mais uns tostões não se importam de
pisar os vizinhos. Contudo, no seu traço há sempre um matizado na agressividade,
onde as aguadas, as cores subtis, dão um condão de leveza, de ironia. Ou seja,
o seu humor é temperado pela cor.
Acima de tudo não nos podemos esquecer da sua formação
de arquitecto, já que esse elemento é uma presença constante, seja como fundo
cénico da ideia humorística, seja nas suas preocupações ambientais e
estético-arquitectónicas, procurando denunciar, como poucos em Portugal,
algumas atrocidades que ele vai encalhando pela via da vida. Ele é, pois, um
grande observador, um pessimista que sabe viver com humor e sabedoria.
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