OXI e o Cartoon
Grego
Uma das primeiras palavras que, normalmente,
a criança aprende a dizer é NÂO, essa interjeição de autoridade e censura
paterna, ao mesmo tempo expressão de personalidade do pirralho. Não obstante a
essa tentativa de afirmação, em breve o infante descobre que não querendo
quebrar, muitas das vezes tem de se dobrar.
Todos
os dias, o quotidiano dá-nos disso exemplo e, neste 2015, a um coro de “Nein”, “No”,
“Non”… dos estrategas economicistas que manipulam as vidas contemporâneas, por
breves momentos impôs-se um “OXI” (Não) uderziano de um povo que, utopicamente,
quis ser irredutível, crendo que a poção mágica da democracia lhe daria voz
activa. Essa dos “Zés Povinho” serem os “Soberanos” só poderia nascer na mente
de um humorista, o Mestre Raphael Bordallo Pinheiro- Todavia esse “OXI” grego
ficou como um marco, como uma breve memória de que talvez o “povo” possa fazer
ouvidos moucos às demagogias dos políticos e um dia acordar para expulsar os
vendilhões do templo do poder. Há muito tempo que uma sociedade, como um todo,
um bloco, não gritava tão alto o direito à democracia. Disse OXI / NÃO à
manipulação, aos jogos subterrâneos economicistas, à desumanização das
políticas, ao império das corrupções partidárias, à desgovernação dita
democrática.
Utopia, humor, democracia… é o
terreno de germinação do cartoonismo, essa arte jornalística que é uma introspecção
de um sentir, de uma vivência colectiva. É uma reacção imediatista à notícia
que é célere na actualidade vivencial mas, ao mesmo tempo, uma suspensão
filosófica no espaço / tempo em que o pensamento humorístico desconstrói o
momento para o reconstruir quanticamente em múltiplas leituras críticas,
opinativas, irónicas, estéticas e filosóficas. O cartoonismo é pois uma
reportagem, sintética, como crónica filosófica, uma obra de arte gráfica e,
sobretudo, uma interjeição meditativa que nos obriga a parar e pensar no que se
passa, no porquê daquela interpretação, na razão pela qual o nosso cérebro
sorri ou ri daquele “boneco”.
A sociedade é um aglomerado
de indivíduos e, se o cartoonismo é a visão de indivíduos, no final, uma
exposição de vários artista é uma imagem mais real e viva de uma sociedade, razão pela qual,
e para perenizar um pouco mais esse “Oxi”, convidámos os cartoonistas gregos a
partilharem connosco os desenhos que criaram durante esses meses quentes, onde
os alemães (Angela Merkel e Wolfgang Schäuble) são naturalmente os reis (da europa)
do papel e, assim sentirmos um pouco do pulsar de uma sociedade em
efervescência democrática.
Não nos interessa se no final venceu
o maquiavelismo europeísta ou a democracia popular, porque da história só
queremos a força dessa aldeia de, momentaneamente, irredutíveis.
Dezasseis foram os
artistas que responderam ao nosso apelo (Billy, Dranis, Ilias Tabakeas, Georgopalis,
Dimitris, Ilias Makris, Kostas Grigoriadis, Mário
Ioannidis, Michael Kountouris, Panagiotis Milas, Panos Maragos, Panos Zacharis, Petros
Zervos, Soloup, Vangelis Pavlidis, Vassileios
Papageorgiou, Yan Yanimos)a quem agradecemos individualmente assim como ao colectivo da Associação
de Cartoonistas Gregos (na pessoa do seu Secretário Geral Dimitris Georgopalis)
que nos apoiou nesta aventura. Finalmente um agradecimento a todo o apoio de
tradutora a Aikaterini Arampatzi.´
No dia 25 de Outubro, aproveitando a
presença do cartoonista Ioannou realizar-se-á no Forum Camões uma conversa sobre o “OXI e o
cartoonismo grego com a colaboração da cartoonista Cristina Sampiao e a
jornalista Ana Margarida de Carvalho.
Osvaldo Macedo de Sousa
(Comissário do AmadoraCARTOON)
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