domingo, 15 de dezembro de 2013

SONETOS DA TASMÂNIA pelo poeta A. Inocêncio Principe

SONETOS DA TASMÂNIA
Eis três recentíssimos trabalhos que o poeta A. Inocêncio Príncipe nos enviou da Tasmânia(onde se exilou já lá vão uns anos!), e que, talvez motivado pela agressividade do diabo-da-tasmânia, lhe dá agora para, de vez em quando e para nosso deleite, produzir uma acutilante poesia aliterante: 

a mesquinha matilha de melífluos mastins

um grupo de gente gananciosa e gasta,
flébil e frouxa como um feixe de feno,
básica e brutal a quem bater não basta,
que nos varre da vida com seu venal veneno. 

um clã de cruenta e cavilosa casta,
perniciosa e pelintra de pequeno porte,
que tudo arrepanha, arrepela e arrasta,
soturna como a sombra da mais sinistra sorte;

os gestos generaliza enquanto gesticula,
come caviar e nós lambemos lula,
dorme em doces dosséis e nós na lama;

mesquinha matilha de melífluos mastins,
finar-se-á refém de seus funestos fins -
nesta amorosa pátria ninguém os ama.


A. Inocêncio Príncipe


pedro passos poejo

 a pedro passos coelho, eu preferia
um pedro passos mais aliterante;
um pedro passos poejo, oh! que alegria,
com alguém assim, tudo iria avante;

e a pátria, bem-temperada ficaria
no decurso exacto de cada instante -
poejo é planta de sabor-sabedoria,
grácil, perfumada, estruturante:

quem açorda de poejo bem conhece,
sabe que não há sabor assim como esse,
nem perfume igual a esse há;

para acbar com a crise eu só desejo:
presida ao poder pedro passos poejo,
e o outro pedrinho se demita já!


A. Inocêncio Príncipe


 d.d.d. 

oh desleixada, desigual democracia,
que soez sacrificas quem te sustenta:
a uns dás menos d'oito, a outros mais d'oitenta,
e farsante falas funérea e fria;

aquele que cria a couve é quem te cria,
faz a fábrica e faz a ferramenta;
pisas o pobre povo e o povo não aguenta
quem de sua vida varreu a alegria;

iletrada e ignorante, esqueces nossa história,
às vozes de bom senso, preferes a escória
de gente carreirista, sem ética ou ideal;

procacíssimo* pesadelo permanente,
bruta e brutal, insegura, insolente,
pára de piratear o pobre Portugal.


A. Inocêncio Príncipe

* superl. abs. de procaz=petulante, descarado


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