segunda-feira, 21 de julho de 2014

MORREU ESTROMPA (1942 – 2014) - Cartoonista, humorista, Bandadesenhista





João Estrompa faleceu na 6ª feira, dia 18
Aqui ficam a Biografia do autor, do Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal, de Leonardo De Sá e António Dias de Deus e uma peça de Geraldes Lino publicada no Tertúlia BDzine #64, de 4 de Março de 2003. Deixo também o Tertúlia BDzine #63 com a história Batman, de Estrompa, editada nesse mesmo Encontro. Estrompa viria a ser Homenageado no 264º Encontro da Tertúlia BD de Lisboa em 7 de Novembro de 2006.

José João Amaral Estrompa nasceu a 8 de Fevereiro de 1942, em Lisboa. Cursou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e começou a sua carreira como desenhador litógrafo. Foi um dos colaboradores gráficos das versões portuguesas de Tintin e Spirou, assim como dos álbuns da Colecção Banda Desenhada, da Bertrand. No Diário de Notícias Semanalteve a secção "Humor de Estrompa" (1982-83), colaborando em Pão Com Manteiga, Tintin,O Mosquito (5ª série), Jornal de Almada, Selecções BD, Notícias do Entroncamento. Publicou várias histórias e ilustrações em fanzines como Protótipo, Almada B.D. Fanzine,Banda, Comic Cala-te, Boom!!!, Classe Média, BD & Roll, Seasons of Glass, Vertigens,Cafénopark, e Shock Fanzine, sendo editor destes dois últimos. Um dos seus personagens carismáticos é o detective de paródia, "Tornado", numa Nova Iorque que mais parece o Bairro Alto ou o Cais do Sodré que o Bronx... Essa figura de gabardina voltou às investigações sumárias na 2ª série de Selecções BD, em 1999. Participou no álbum colectivo Entroncamento de BD's, em 1996, e em diversas exposições, tendo recebido prémios nas categorias BD e cartoon.

In Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal, de Leonardo De Sá e António Dias de Deus, NonArte – Cadernos do Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, Edições Época de Ouro, Costa de Caparica 1999.

Acrescentemos também que Estrompa participou na Mutate & Survive (Colecção Chili Com Carne #2; 2001), na Lx Comics nº 13 (Tornado – Só me Saem Dukes!), em Outubro de 2002 e Vasco Granja: Uma Vida... Mil Imagens, em 2003. Colaborou ainda no BDjornal #5, de Setembro de 2005, com as sete pranchas de Uma História Triste 


BIOGRAFIA DE ESTROMPA por Geraldes Lino


José João Amaral Estrompa nasceu em Lisboa, em mil novecentos e quarenta e dois (mas parece ter a idade do Tornado, desde que rapou a barba). Frequentou a Escola António Arroio, sem ter concluído o respectivo curso. A sua área profissional foi sempre a Publicidade e Artes Gráficas. Nas revistas Tintin, Pão com Manteiga, DN Semanal, Mosquito(5ª série) e Selecções BD (1ª série) publicou cartoons e bedês cómicas, de uma página, com animais de características antropomórficas – Pink (um gato) e Smaile (um cão que tem um gato amigo chamado Smool). Mas a sua maior produção é mesmo nos fanzines, com destaque óbvio para os numerosos episódios da sua série de referência, o Tornado 1989 – este já com duas merecidas promoções: ao fazer dez anos de existência (1999) teve publicação na revista Selecções BD (2ª série), surgindo posteriormente em álbum editado pela Bedeteca de Lisboa. Foi de igual modo nos fanzines que, embora de forma esporádica, Estrompa fez viver a comportamentalmente subversiva Família Darling.

Sempre com a fusca calibre 69 pronta a entrar em acção, uma beata permanente ao canto da boca, chapéu, gravata amarela sobre camisa de seda azul (apesar de a série sempre ter sido publicada a preto e branco, sabemos que são essas as suas cores, graças às descrições do narrador), mais as suas inseparáveis luvas de genuína pele de porco – tão inseparáveis que nem nas cenas de sexo as tira ! –, Tornado 1989 é um dos raros heróis fixos da banda desenhada portuguesa. Com a particularidade de ter nascido e vivido até há pouco unicamente nas páginas dos fanzines – Banda, Comic Cala-te, BD & Roll, Shock,Almada BD Fanzine, CaféNoPark, Seasons of Glass, Boom e Tertúlia BDzine, por onde já se espalham duas dezenas de episódios. O seu aparecimento em Julho de 1999, no nº 2 (2ª série) da revista Selecções BD correspondeu à oportunidade de saltar das publicações amadoras para uma profissional. Três anos depois, Tornado voltou a ter a oportunidade de mostrar-se em suporte de prestígio, a colecção LX Comics editada pela Bedêteca de Lisboa.

Estrompa, o autor (argumento e desenho) do Tornado 1989, considera-o como que “um cavaleiro andante do asfalto”. Ternuras cúmplices de criador... Do que não há dúvidas é que, seja no nome, seja no aspecto físico, ou até no vestuário, ele tem semelhanças comTorpedo 1936, personagem de referência na banda desenhada espanhola, criada pelo traço de Jordi Bernet sob o argumento de Enrique Sanchez Abulí. Quando Estrompa viu pela primeira vez o Torpedo, em 1985, nos álbuns da entretanto extinta Editorial Futura, apercebeu-se que ele lhe fazia voltar à memória as imagens de alguns actores que o tinham impressionado na infância, uns tais Humphrey Bogart, James Cagney, Edward G. Robinson... Daí a criação de Tornado 1989, anti-herói que o autor admite ter desenhado um tanto à maneira de pastiche do Torpedo, embora sejam de sua autoria, enquanto argumentista, as diferentes e muito especiais características de malandro profissional evidentes no Tornado – o qual tem sido um pouco de várias coisas: polícia, mas também ladrão, detective, dono de um bar em Casablanca... – versatilidade que lhe confere uma personalidade desconcertante e muito própria.

Tornado foi criado graficamente em 1989, pormenor em destaque no nome de guerra com que se apresenta. Ao longo da sua existência tem-se constatado que ele possui tendências, humorísticas e críticas, diferentes da do respectivo modelo. Os constantes apartes, brejeiros ou sardónicos, que intercalam os diálogos e pensamentos da personagem, bem como os comentários mordazes do narrador, criam à série, por sua vez, uma textura interventiva que rareia nas suas congéneres. Aliás, Estrompa, o seu manipulador literário e gráfico, envolve-o nas mais insólitas peripécias, desde obrigá-lo a fazer-se passar por travesti (a “menina” Tornada, no episódio Torpedo contra Tornado), a deixá-lo apanhar uma doença venérea (no episódio Uma História de Cowboys), até não o poupar a uma cena imprópria para um protótipo de machão latino: a de ser sodomizado por dois ou três “gorilas”, às ordens dum mafioso com voz cavernosa e cara de Marlon Brando (episódio O Padrinho). Estas e outras situações insólitas, conferem-lhe uma dimensão ficcional de grande originalidade no universo da banda desenhada portuguesa, tornando-o num anti-herói exemplar.

Para quem entrar pela primeira vez em contacto com Tornado, há que esclarecer que o seu nome real é Bogarte – para os amigos já foi Garte, passou depois a ser Bogey, mas, para as “girls”, foi sempre e apenas o Boga. Tornado é simples alcunha, criada por ele expressamente para a bófia, mas serve igualmente para os tansos e “nalfabétus”, conforme diz no seu português rasca em ocasionais confidências. Quanto à idade, tem a que aparenta : quarenta sombrias “prima-beras” – assim escreve o seu “biógrafo” Estrompa – completadas num qualquer mês do signo de Carneiro; no que se refere ao local de nascimento, os elementos fornecidos na sua apresentação (Banda nº 10, Agosto de 1990) não são minimamente credíveis, visto que mencionam em simultâneo, dois locais geograficamente bem distantes: Nova Iorque e Casal Ventoso! Será que, afinal, é português de origem, embora naturalizado americano? Com efeito, ele conhece bem Lisboa, tão bem que até gosta, como diz a certa altura, “de ir beber um uísque com gêlo a uma espelunca ali p’rós lados do Parkmayer” (citação textual). Mesmo a sua divulgada filiação – pai polaco, mãe italiana, emigrantes – poderá ter sido forjada, para despistar a bófia. Onde estará a verdade ? Alguma vez se virá a saber ?
Estrompa & Tornado formam uma dupla muito sabidona, sempre com trunfos escondidos na manga...
in "Tertúlia BDzine, Nº 64, 4 Marco 2003 – Distribuição gratuita na Tertúlia BD de Lisboa"

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