Eu agora era o Salgueiro Maia/
capitão não de mas por Portugal/ eu agora como sempre até agradeceria que nem
me mudassem de sítio/ isto porque o sítio onde eu estiver há-de ser sempre
apenas o sítio onde eu me quiser/ eu morto ou vivo/ ou eu mais vivo agora até
do que nunca/ hoje até se calhar/ mais
do que alguma vez/ preciso sou do que no sítio onde estou/ escusado é até que
chamem Liberdade ao Jardim onde me puserem/ liberdade há-de
ser sempre o sítio onde homens como eu estiverem/ nunca na puta-da-vida liguei
a efemérides de busto-em-vida/ da minha vida a despedida terá sido fugaz mas
nunca arrependida/ a chatice do cancro/ chove Deus ou o Diabo por ele a
cancros/ a melancolia de deixar pesarosa a mulher que tive por privada rosa/
mudar-me de sítio para quê? / mudem mas é de sítio a des-gente do meu País/
esta sub-canalha que nunca há-de ser feliz/ não de azimute-topografia/ não a
mera rectangular geografia/ mudem-se-vos antes dessa estranha gente canalha que
mais despreza a terra contra quem mais a trabalha/ e que faz de todos nós
connosco mesmos mudos da surdez da voz/ um País de si mesmo Pátria indiferente/
uma estátua de sal para mim não é ser natural/ é nocivo/ é virtual/ alguém que
pela tarde fria/ da História-Pátria-Mitologia/ viu na estátua de sal/ um tal Salgueiro
Maia tudo menos real/ alguém que olhou para trás e se arrependeu/ ora tal tipo
de gajo ou capitão nunca fui eu/ tive pena até do Marcello do catano com dois éles/ coitado/ ratito encafuado no Carmo/ onde o cerca-sitiei/ por e
de maneira que eu cá sei/ na manhã atónita vibrava o megafonialtifalante/ como
quem vibrava o nítido futuro naquele mesmo instante/ do cravo o rendilhado
rubroverdeava tanta coisa rouca/ que até ser livre/ começando-o só a ser/
parecia coisa tão pouca/ e a minha mulher tão preocupada em casa/ as
mães-mulheres deste País/ desinfeliz/ tão preocupadas em casa/ rosa/ asa/ digo/
mulher em casa/ sem saber se ir a pé a Fátima/ se de chaimite ao futuro/ um
homem é um homem/ uma rosa é um País/ é um homem com mulher/ lembro-me agora/ estátua/
de ter mudado de sítio por ter sido eu a querer fazê-lo/ bronze ou não/ sal ou
sopas/ quero lá saber/ eu agora não era isso/ eu estátua é que nunca fui/ estátua
é que eu nunca fui não/ saí de Santarém e vi Lisboa/ a madrugada era boa/
amanhã ainda sou Salgueiro & Maia & Capitão.
O País é que se calhar não.
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