No silêncio da biblioteca dormem
milhares de segredos, tesouros, vidas em suspenso para serem acordadas,
revividas, resgatas da solidão, do pó da ingratidão, da efemeridade da memória.
Para além dos vermes do esquecimento que tudo apaga, este repositório de papéis
luta também contra outras pragas que não só devoram as suas fibras, como
intentam na manipulação das histórias.
A
cada um o seu papel no quotidiano, por isso, tão frágil a vida neste folhear
dos anos, das décadas, dos séculos. Alguns, que conseguiram marcar a sua
presença em telas, ou em catedrais religiosas, economicistas e políticas, ou em
cartonados à prova da água e dos ventos, acabam por se manter à tona das
memórias, perpetuando-se como valor histórico, monetário ou referencial
filosófico-artistico. Os que se resignaram com o simples papel, como o da
imprensa, no dia seguinte à sua apresentação pública, rapidamente viajam para a
efemeridade e mais difícil é o seu resgate.
A
biblioteca está repleta da obra do mestre, possui um tesouro incalculável da
criatividade, do engenho, do suor, lágrimas e beleza poética das linhas com que
cenografou a vida, mas poucos são os que conhecem essa obra, poucos sabem o seu
nome. Criador de irreverências, artista de insatisfações, Fernando Correia Dias
é um, entre outros, dos génios da arte luso-brasileira silenciado no pó dos
papéis, adormecido na ingratidão das memórias.
A
10 de Novembro de 2012 cumprem-se cento e vinte anos da data do seu nascimento
(Lugar da Matta – Penajoia – Lamego), setenta e sete anos da sua morte (29/11/1935
- Rio de Janeiro). É pois tempo de resgatar a memória do seu papel na história
das artes em Portugal e no Brasil, recuperar a visibilidade da sua obra,
reviver o seu percurso, influências e herança.
Dedicando-se,
fundamentalmente, às artes do papel, não deixou de contribuir como homem e
artista noutras expressões estéticas, como um pioneiro, como um irreverente,
como um dos homens que impulsionou as rupturas do modernismo luso-brasileiro. È
certamente um dos mais interessantes mestres do desenho, da cerâmica, do
ex-libris, do design gráfico, das artes decorativas da primeira metade do
século XX que é urgente conhecer e integrar na historia universal.
Para
recuperar, em parte, essa memória fundamental das artes portuguesas e
brasileiras, a Editora Batel, no Brasil, edita o álbum de arte “Fernando
Correia Dias, um poeta do Traço” com texto de Osvaldo Macedo de Sousa e a Douro
Alliance organizou a exposição “Correia Dias um Pioneiro do Modernismo” no
Teatro Ribeiro Conceição – Lamego, com catalogo que está patente ao público até
16 de Novembro, uma produção da Humorgrafe
Auto-caricatura
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