V BIENAL DE HUMOR LUÍZ D’OLIVEIRA GUIMARÃES – PENELA 2016
“DO MEL AO FERRÃO”
Por: Osvaldo
Macedo de Sousa
“O humorismo
representa a mais sã de todas as filosofias, que é a dos que sabem rir.
O humorista
comentando através da sua ironia os homens e os factos que gravitam á sua
volta,
produz,
quando o faz com o espirito superior e critério conceituoso, uma profunda obra
moral.
Por isso
mesmo a alegria dos humoristas nem sempre deixa de ser ilusória.
Quantas vezes
a pequena máscara cor-de-rosa que eles ostentam sobre a face,
esconde uma
lágrima pungente! A ironia que se desprende da sua “verve” sagaz encobre,
de certo
modo, o drama que o mundo oferece dia-a-dia. Ao seu comentário flagrante.”
(LOG. In “Entre nós que ninguém nos ouve” pág. 68)
O que une a
abelha e o cartoonista, o espírito do mel ou a sátira do ferrão?
Como em tudo
na vida, depende da perspetiva de cada um e, se a verdade nunca está de um lado
nem no do outro, e muito menos no centro mas na essência dos seres, das coisas,
das relações, as minhas deambulações metafóricas por este tema não passam de
muletas, divagações do pensamento, portas para cada um seguir o seu caminho de
reflexão humorística no tópico selecionado para esta Bienal, concordando ou
discordando totalmente do que está escrito.
A abelha, ou a
apicultura, com a exploração de todos os derivados inerentes à actividade deste
insecto, está ligada ao Homem, desde que este tomou consciência do seu espírito,
energia essa que também lhe abriu a mente para conseguir olhar o mundo afora
das aparências, consciencializar-se para além do espelho, pensar ademais da
neblina das palavras e das perspectivas.
Graficamente
encontramos as suas primeiras representações por volta de 7.000 a.C., em
pinturas rupestres de Araña – Valência. No Antigo Egipto (a partir de 3.200 a.C.)
está associada à realeza faraónica, agregadora numa única colmeia – federação de
todas as regiões do Egipto: o verdadeiro título do Faraó era NyswBit, onde Bit
significa Abelha e é o símbolo do baixo Egipto. Segundo a sua mitologia, Bit foi
gerada das lágrimas de Rá (o deus-sol) ao caírem sobre a terra, impondo-se como
um ser de múltiplas riquezas e características terapêuticas, ao mesmo tempo que
assume a iconografia da alma Divina do ser humano.
Esta ligação
espiritual surge em quase todas as culturas da antiguidade, representando,
muitas das vezes, a crença da sobrevivência além-morte, da ressurreição /
reencarnação. Esta ilação ao caminho da evolução da alma leva a que tenha sido
associada a cerimónias iniciáticas, em que o Espírito / Palavra (em hebraico
“abelha” escreve-se “Dbure”, cuja raiz Dbr significa verbo / palavra) se purifica
pelo fogo, se nutre com o mel (o hidromel é a bebida dos deuses) e que destrói as
impurezas / obstáculos com o seu ferrão.
Também o
cristianismo absorveu este universo alegórico em que Jesus assume a imagem da
abelha e o mel é a doçura da sua palavra / pensamento como alimento das almas e
o ferrão o papel de Cristo Justiceiro. Quanto ao Islão, encontramos na Surata
16 : “E teu Senhor inspirou as abelhas:
«Construí as vossas colmeias nas montanhas, nas arvores e nas habitações» /… Do
abdómen delas sai um líquido variegado de cores que constitui cura para os
homens. Nisto há sinal para os que reflectem.” A abelha, nos textos védicos
da India, representa o espirito que se embriaga com o pólen do conhecimento.
Resumidamente, nesta breve divagação nas espiritualidades, a abelha representa
o espírito versus a materialidade, a geometria (divina) contra a ignorância, a
ordem social contra a desordem.
Passando de
novo ao tema da Bienal, poder-se-á dizer que no princípio é o “pólen” que no
caso do humorista é a notícia, o quotidiano que é colhido pelo obreiro, e se na
abelha esse néctar é processado pelos enzimas digestivos, no cartoonista é
deglutido pelo olhar filosófico do humor, desconstruindo o supérfluo para
regurgitar em ironia, comicidade ou mesmo sátira. Tal como o mel, nem todos os
humores têm a mesma cor, nem todos riem da mesma forma, nem dos mesmos
assuntos, por muito que queiramos impôr a aldeia global para todos os seres, coisas
e pensamentos. Consoante os campos, as florações, os pólens recolhidos e as técnicas
de preparação, há várias colorações, aromas e gostos no mel. O riso, mesmo
universal como a luz divina no reconhecimento das fragilidades humanas, é
encarado ou reage em cada cultura e em cada zona geográfica, em cada campo
educacional de forma diferenciada. O riso, o cómico, o humor, é fruto dos pólens
recolhidos que, consoante os seus tratamentos, pode ter espaço de degustação
num território e não noutro. Claro
que, como o mel que quando é puro, com o tempo tende a cristalizar, já que não
foi sujeito a temperaturas que destroem o seu lado bactericida, também o humor
puro se cristaliza no tempo e, por mais anos que passem, por mais voltas que a
vida dê, está sempre actual, incisivo e actuante.
A abelha é um animal social, símbolo
de trabalho e lealdade, mas também um guerreiro na defesa da comunidade, quando
se sente ameaçada, usando o seu ferrão. Da mesma forma, o humor é uma fórmula
de pensamento doce que nos faz quebrar barreiras de sociabilidade, combater o
pessimismo, diluir as tristezas, construindo equilíbrio social pelo sorriso
filosófico, podendo contudo farpear, quando o político, as intolerâncias, os
abusos do poder colocam a comunidade em perigo.
O ferrão da abelha / humorista está
ligado a um sistema venoso que provoca um efeito alérgico, gravidade que está
dependente do sistema imunológico. No caso da sátira, o padrão de reacção à toxicidade
está concomitante ao grau educacional da vítima, ao nível do
seu sentido de humor, capacidade de autocrítica, surdez, cegueira ou
intolerância mental. Já o filósofo grego Epicetus tinha dito: “Não são os eventos do mundo que são o
problema, mas a nossa forma de olhar para eles”. Tal como a tolerância ou
intolerância, o sentido de humor tem de jorrar de ambas as partes.
Há muitas formas de olhar e de não querer ver e, neste momento em que
vivemos um grave deslocamento de povos, de migrações, em que as necessidades,
por vezes, se misturam com oportunismos, mafias, fundamentalismos, em que a
tolerância joga com outras intolerâncias, a alegoria da abelha é uma das formas
de olhar para esse fenómeno porque também ela, como a humanidade, está num
período de crise grave. Como refere Einstein: “Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas
mais quatro anos de existência, sem abelhas não há polinização (ela é
responsável por 80 a 90% deste fenómeno natural), não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não
haverá raça humana”. O equilíbrio da biodiversidade, tal como do
multiculturismo é fundamental. O que coloca em perigo este ser? As políticas de
pesticidas, a sobrepopulação de apicultura (que recomenda 800 metros entre cada
apiário), que cria guerras entre colmeias e migrações, a doença parasitária Varroose,
a vespa Velutina Nigotorax…. Comparativamente, podemos referir que também as
políticas de opressão destroem a liberdade de expressão humorística, que a
doença parasitária do “politicamente correcto” asfixia a mente filosófica e a
vespa do terrorismo mata a criatividade. A vespa para além de cortar a cabeça
das abelhas, instala-se à porta das colmeias infestando esta com stress, com o medo de saírem à rua e
morrerem de fome…
O mel é um dos alimentos do corpo com maior valor energético, rico em
vitaminas, minerais e bactericida, o que lhe confere alto poder terapêutico (tal
como outros produtos ligados às abelhas), cumplicidade que mantém com o humor. A
“apiterapia” como a “geloterapia”, são medicinas alternativas fundamentais
porque o riso, subproduto do humor, quando “explode” exerce o seu impacto no
sistema muscular, nervoso central, respiratório, cardiovascular, imunológico e
endócrino….
O que separa a abelha do cartoonista? O mel é consumido por todos, sem
observar as religiões, os clubismos, os partidarismos distribuindo a sua
riqueza democraticamente, assim como o seu ferrão é usado apenas quando a
segurança da colmeia é posta em causa. Já a comicidade tem componentes
subjectivas, porque o ser humano é falível, e por muito filósofo que queira ser
no seu humor construtivo, a desconstrução dos factos, que nem sempre são
globais mas parciais, pode induzir a erros, as facciosismos, e isso só se cria
com a verdadeira liberdade de espírito, estando acima das tolerâncias e
intolerâncias, ser superior às ideologias e crenças, ser democrata no sentido
de reconhecer e aceitar as diferenças, assim como obrigar a que reconheçam e
aceitem a sua diferença. Não há melhor critica, filosofia construtiva, ou comicidade
que a que é feita pelo sorriso.
“/…/ O sorriso é o bom
tempo do espírito. As almas que apenas sabem rir e soluçar são almas
que têm apenas Verão e
Inverno. Falta-lhes a Primavera e Outono – que são na verdade,
as duas estações
sorridentes da Natureza”
(LOG in “Fim de Semana” de 15/3/1948)
Por tudo isto podemos dizer “Sigam a Abelha”, a qual, se é um barómetro
do equilíbrio dos sistemas ecológicos, também o humor é o barógrafo de alerta
da sanidade mental da sociedade, do equilíbrio democrático do poder, razão pela
qual ambos têm de ser protegidos para que não sejamos uma humanidade em vias de
extinção.
Sendo portanto o tema desta V Bienal de Humor Luís d’Oliveira Guimarães –
Penela 2016 - “Do Mel ao Ferrão”, convidamos os artistas de todo o mundo a
filosofarem sobre o papel da abelha / mel (e demais derivados) na nossa
sociedade e, paralelamente, o papel do humorista / cartoonista. Não nos podemos
esquecer das alergias que se têm desenvolvido contra o ferrão da sátira /
ironia, o medo da vespa terrorista que tem matado, perseguido e oprimido os
filósofos da liberdade e da actualidade que vive um momento importante no jogo
das tolerâncias e intolerâncias. Não nos esqueçamos que a integração só resulta
quando o outro também se integra, tolerância exige tolerância, intolerância
cria intolerância.
Podendo participar com o máximo de quatro trabalhos, dois devem ser
obrigatoriamente sobre esta temática (ou os quatro), podendo os outros dois
serem retratos-caricaturais de cartoonistas (auto-caricatura ou de mestres do
seu país).
V BIENAL de HUMOR
“LUÍS D’OLIVEIRA GUIMARÃES” - PENELA 2016
Uma
Organização: Câmara Municipal de Penela / Junta de Freguesia do Espinhal
Uma Produção: Humorgrafe - Director Artístico:
Osvaldo Macedo de Sousa (humorgrafe.oms@gmail.com)
1 - Tema: “Do Mel ao Ferrão” - convidamos os artistas de todo o mundo a filosofarem sobre o papel da abelha / mel (e demais
derivados, para alem do seu papel na biodiversidade) na nossa sociedade e
paralelamente o papel do humorista /
cartoonista. Não nos podemos esquecer das alergias que se têm desenvolvido
contra o ferrão da sátira / ironia, o
medo da vespa terrorista que tem matado, perseguido, oprimido os filósofos da
liberdade e da actualidade que vive um momento importante no jogo das tolerâncias e intolerâncias. Não nos
esqueçamos que a integração só resulta quando o outro também se integra, tolerância
exige tolerância, intolerância cria intolerância.
2 - Aberto à
participação de todos os artistas gráficos com humor, profissionais ou
amadores.
3 – Data Limite: 25 de Junho de 2016. Devem
ser enviados para humorgrafe.oms@gmail.com,
humorgrafe@hotmail.com ou humorgrafe_oms@yahoo.com (No caso de
não receberem confirmação de recepção, reenviar de novo SFF).
4 - Cada
artista pode enviar, via e-mail em formato digital (300 dpis formato A4) até
4 trabalhos a preto e branco (uma só cor com todos
os seus matizes – não são aceites
desenhos a 2, 3 ou 4 cores – em que obrigatoriamente dois
devem ser sobre esta temática, podendo os outros dois serem retratos-caricaturais
de cartoonistas - auto-caricatura ou caricatura de mestres do seu país),
aberto a todas as técnicas e estilos como caricatura, cartoon, desenho de
humor, tira, prancha de bd
(história num prancha única)... devendo estes vir acompanhados com
informação do nome, data de nascimento, morada e e-mail.
5 - Os
trabalhos serão julgados por um júri constituído por: representantes da Câmara
Municipal de Penela; representante da Junta de Freguesia do Espinhal;
representante da família Oliveira Guimarães; pelo Director Artístico da Bienal;
um representante dos patrocinadores, um representante de comunicação social local
e um a dois artistas convidados, sendo outorgados os seguintes Prémios:
*
1º Prémio da V BHLOG- 2016 (no valor de € 1.800)
*
2º Prémio da V BHLOG- 2016 (no valor de € 1.300)
*
3º Prémio da V BHLOG- 2016 (no valor de € 800)
*
Prémio Revelação de Humor da V BHLOG- 2016 (no valor de € 250) (para
autores nacionais com menos de 25 anos de idade).
O
Júri, se assim o entender, poderá conceder “Prémios Especiais” António Oliveira
Guimarães, Município de Penela. Junta de Freguesia do Espinhal e Humorgrafe), a
título honorífico, com direito a troféu.
6 -
O Júri outorga-se o direito de fazer uma selecção dos melhores trabalhos para
expôr no espaço disponível e edição de catálogo (o qual será enviado a todos os
artistas com obra reproduzida).
7 –
A Organização informará todos os artistas por e-mail se foram selecionados para
a exposição e catálogo, e quais os artistas premiados. Os trabalhos premiados
com remuneração, ficam automaticamente adquiridos pela Organização. Os
originais dos trabalhos premiados deverão ser entregues à Organização (o
original em trabalhos feitos a computador é um print de alta qualidade em A4,
assinado à mão e numerado 1/1), porque sem essa entrega, o Prémio monetário não
será desbloqueado.
8 -
Os direitos de reprodução são propriedade da Organização, logo que seja para
promoção desta organização, e discutidos pontualmente com os autores, no caso
de outras utilizações.
9 -
Para outras informações contactar o Director Artístico: Osvaldo Macedo de Sousa
(humorgrafe.oms@gmail.com) ou V
Bienal de Humor Luís d’Oliveira Guimarães, Sector de Cultura, Câmara Municipal
de Penela, Praça do Município, 3230-253 Penela - Portugal.
10 -
A V Bienal de Humor Luís d’ Oliveira Guimarães – Penela 2016, realiza-se de 3 a
21 de Setembro no Centro Cultural do Espinhal, podendo contudo ser também
exposta em outros locais a designar.
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