sexta-feira, 24 de julho de 2015
Crónica Rosário Breve Tela Cénica – ou então – Tudo Ou Nódoa por Daniel Abrunheiro
Nota
Preambular – Porque sou doido por bom teatro (Arte-de-Talma para os eruditos e
para os decifradores de palavras-cruzadas, a ponto de de mim poder dizer-se que
tenho ‘pancada’ de Molière, e porque gosto muito de listas telefónicas pela razão de
serem obras com muitas personagens e acção nenhuma, surgiu-me a composição do
seguinte aparato dramatúrgico:
À esquerda-alta, o cavalheiro de azul remói o
desgosto-mor da sua vida: a filha única desgosta dele – já a mãe dela e a mãe
dele lhe fizeram o mesmo. É de joelhos pontudos e de coxas magras, calvas e
muito brancas – vir de calções para esta crónica teatral não foi grande ideia
sua. Nem ajuizado adereço. Fuma como se pensasse, baforando argolas perfeitas quais
calamares de fumo.
Ao centro-alto, duas mulheres-pavoas. Bustos como
bandejas. A mais velha cheira a cabeleireiro recente: fede a madeixas quentes,
que lhe estriam o capacete de unhadas postiças; a mais nova é uma rosa branca
como aquelas que se amontoaram em plenário miraculoso aquando do enterro da
Alexandrina de Balasar (morte a 13, funeral
a 15 de Outubro de 1955: “"Hoje
no Porto não há rosas brancas, foram todas para Balasar."), a
santinha daquela mui pia freguesia do concelho da Póvoa de Varzim. Só que a
sobredita não é santa nem virgem, é só rosa branca. E está viva, também. E é
vivaça como as rosas encarnadas.
À
direita-alta, a mesa está desocupada, assim permanecendo até final desta peça
quieta mas não isenta de seu drama (como no fim se verá). Por conseguinte, as quatro
cadeiras conversam umas com as outras, mormente acerca dos traseiros volvidos
que os tampos lhes enceraram do muito uso, tampos e tempos ora velhos mas
outrora bons, anos de muita freguesia, de muito tostãozinho amealhado chávena a
galão, carioca a cálice, prego-no-pão a meio-bife-no-prato-com-ovo-a-cavalo, bola-de-berlim
a pirâmide de massa-de-chocolate, macinho de cigarros a (valha-nos Deus!)
cigarrilhas-de-café-creme, ’inda o isqueiro carecia de licença de porte &
uso, salazar-salazar-salazar. E cerveja preta à pressão como outra não havia
nem voltou a haver.
À
esquerda-baixa, uma criança-menina obtém da mãe o emolumento (“uma-vez-sem-exemplo”) de um ovo-kinder
com néctar de manga-laranja avec
palhinha de plástico. A mãe propriamente dita tem qualquer coisa de tremente zebra:
ou de égua gentia, brusca, nervosa, fremente – do ser divorciada há pouco
tempo, só pode.
Ao
centro-baixo, um senhor que foi padre mas que agora prèga benefícios,
protecções e condições excepcionais para uma companhia de seguros. Não
desleixou, todavia, nem a castidade genital nem o latinório daqueles
antigamentes de rendadas sobrepelizes & de mulheres ajoelhadas: vive só
numa garagem com quarto-de-banho (só com retrete e lavatório, lavando-se estoicamente
ele a balde & púcaro) que uma tia velha devota da Alexandrina cedeu por
caridade ao desavindo e materialista, quiçá marxista,
apóstata.
À
direita-baixa, uma arara enjaulada apregoa a aguarela tropical de si mesma.
Bisneta de enjauladas, não compreende nem enseja qualquer veleidade aeronáutica
– é feliz com umas poucas sementes e bebedouro fresco como o povo português,
além de nicotinómana passiva, pois que se pode fumar (e fuma-se, como já vimos)
em palco.
O
fosso-da-orquestra não tem músicos nem música a sério, mas sim um “DiJêi” de bairro-social que faz uma
máquina bolçar kizombas & hip-hops intermináveis e iguais entre si como a
universalidade da merda, pseudomúsica intolerável até ao mais rude pavilhão
auditivo. (Cometemos o crime continuado do colonialismo bélico-cristiano-civilizador-ultramarino,
não cometemos? Cometemos. Então agora há que aguentar e penar, em remorso
mal-mordido, tal caca sonora.)
A plateia
apresenta um punhado octogonal de melros que cuspimastigam pipocas em voz-alta
e não puseram em silêncio os respectivos telemóveis. São deveras oito, ao todo:
um que escreve coisas idiotas na contracapa de um jornal em acelerado e
recrudescente descrédito (o jornal e ele); outro que é idiota também e mais
nada; outro que é coisa também; o quarto é professor há 29 anos e concorreu
para os Açores mas nem assim; o n.º 5 é o Chanel
mais famoso; o meia-dúzia quis, em pequenino, ser astronauta mas não chegou
a astronauta, ficou sempre pequenino e cá em baixo como os outros; o hepta é um
hepático tipo Bílis-the-Kid cuja amarelidão de rosto reverbera e refulge no
escuro como uma hóstia de pus, para além de croupier
de vinte-e-um, banca-francesa &
roletas vesgas numa manhosa tabanca clandestina;
e o derradeir’oitavo é um dos meus irmãos, aquele que não fala comigo por causa
de algo de que nem ele nem eu nos lembramos já o quê, o porquê e o para-quê.
O
arrumador-lanterninha coxeia o reumatismo sem esperança de gorjeta. A da
bilheteira cobiça tão-só na vida a sopa requentada e o gato sarnento que em
casa a esperam ao cabo de representada a representação, desligada a ribalta e
aferrolhado o pórtico-hall. Só que não é, a dela, uma casa-casa – é, isso sim,
uma garagem anexa à do ex-padre-agora-mediador. E paga um balúrdio de renda
pelo cubículo (mas com bidé para o inevitável chape-chape das mulheres), ao contrário do sobrinho da
velha-alexandrinófila, que não paga nada mas há-de pagar nos infernos por haver
renegado a Deus.
Nisto,
mesmo à maneira daquelas coisecas para representar na TV (com a respectiva
mulher a protagonista, claro) que o senhor Moita Flores escreve), não cai o
pano – cai a nódoa.
quinta-feira, 16 de julho de 2015
“Viriato na Banda Desenhada” EXPOSIÇÃO NO ESPAÇO INOVINTER, EM MOURA
“Viriato na Banda Desenhada” é o nome da exposição
que será inaugurada amanhã, dia 16 de julho, às 19:30, no espaço Inovinter, na
cidade de Moura.
A mostra é uma coprodução da Câmara Municipal de
Moura e do Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu (Gicav), com
colaboração da Câmara Municipal de Viseu, Junta de Freguesia de Viseu,
Instituto Português do Desporto e Juventude e Inovinter – polo de Moura.
Trata-se de uma exposição composta por 15 quadros
que incluem todas as adaptações em banda desenhada sobre a figura de Viriato.
Estão 13 desenhadores representados nesta exposição, nomeadamente, 11
portugueses – Artur Correia, José Garcês, Fernando Bento, Victor Mesquita,
Crisóstomo Alberto, José Ruy, José Salomão, Eugénio Silva, Baptista Mendes,
João Amaral, Pedro Castro – e dois espanhóis – Chuty e Manuel Gago.
A exposição “Viriato na Banda Desenhada” pode ser
visitada de 16 de julho a 2 de agosto, nos seguintes horários: sexta-feira, 17,
das 17:30 às 20:00; durante o fim de semana, 18 e 19, das 10:00 às 13:00 e das
18:30 às 22:30. Nos restantes dias das 17:30 às 20:00.
quarta-feira, 15 de julho de 2015
Exposição “O jogo da política moderna” na Biblioteca Municipal D. Dinis de Odivelas
A
I República Portuguesa trouxe consigo a explosão das práticas de humor social e
político. O fenómeno foi alimentado pelo teatro de revista, pela comédia de
costumes, mas sobretudo pela imprensa humorística e pela caricatura, que
conheceram então um novo fôlego
Esta
exposição constitui uma excelente oportunidade para, a partir do desenho
humorístico e da caricatura política e social publicada na imprensa pelos
principais "humoristas" portugueses da época, mergulhar n' "0
Jogo da Política Moderna" da I República Portuguesa, e, com isso, nas
virtudes e nos defeitos do novo regime.
Biblioteca Municipal D. Dinis
14 de julho a 12 de setembro
Parceria:Museu Bordalo Pinheiro
Crónica Rosário Breve - Em cartaz só mais esta semana por Daniel Abrunheiro
Demorei-me
um pouco mais pelas ruas do que pela noite é meu costume.
O Estio não
sufocava já. Antes pelo contrário: temperada, filantrópica, a aragem nocturna
convidava à cirand’ambulação em serenidade acrítica. Acrítica e serenamente cirand’ambulei,
pois. Fi-lo cismando pequenos-nadas, desses que mais me vale sonhar acordado do
que quando presa indefesa do sono.
Descia eu
em perfeita solidão a Avenida (aquela assombrada ainda, e cada vez mais, pelo
Teatro extinto). A estudantada desertou-a por o motivo das férias sazonais, a
Deus graças. Subindo-a (à Avenida, digo), com estes que a terra há-de enxugar vi
o casal MM/AM: Marilyn Monroe & Arthur Miller.
Não me
pareceram infelizes como nas fotos daquela época em que respiravam a par e a
conjugal preceito. Suavizados pela bonomia da temperatura e do anonimato, pareceram-me
tão-só gente tão só: como eu, àquela-hora-naquele-lugar.
Ela cometia
o pecadilho indultado à nascença de não simular beijos morango-platinados para
a câmara.
Ele não
espelhava aquela sisudez de grande dramaturgo que de facto foi.
Duas soledades
notáveis (a)notadas por uma terceira irrelevante solidão – isto apenas.
Passaram
eles, eu passei – como é de força & é de lei que tudo passe e passem(os)
todos. Não olhei para trás: já sou de sal q.b. e quanto sobre.
Lançado sem
pressa nessa espécie de epifania-technicolor-a-preto-e-branco, não demorei
muito a topar, uns meros metros-décadas a baixo, com outra parelha improvável:
BC/VS – Beatriz Costa & Vasco Santana. Muito novos ambos, claro, ambos muito
Canção-de-Lisboa, naturalmente.
Ela
choraming(u)ava; ele fazia por consolá-la. Julgo ter percebido porquê: ela
sabia que o Vasquinho dela iria morrer cedo, como de facto morreu; todavia, ele,
maganão vero e fingido malandrim como sempre, ia-lhe cici’sussurr’ando que
preferia tal destino àquele que sabia já vir a ser, como a ser deveras veio, o
dela, o qual destino era, como foi, o de invern’amargar o outonecimento da vida
no desamparo sem cura nem companhia de um quarto-casa de hotel antigo.
Não tive
tempo de ter pena deles: retive, sim, não quaisquer fúteis lágrimas de basbaque
cinémano, mas um sorriso grato – por ele esbracejar mui gordamente, de charuto
à Groucho Marx na beiça, no intuito de fazê-la gargalhar em cristal puro como
dela era timbre.
Fantasmas
os quatro, caixeiros-viajantes prontos a morrer de novo, lá devem ter arranjado
maneira de penetrar no fantasmático Teatro encerrado da Avenida. Não sei. Sei
que eram horas do último autocarro. Apanhei-o.
Apanhei-o,
mas só depois de baforar à pressa a ponta final do charuto à Groucho Marx que o
Vasquinho me atirou do lado de lá da pantalha e em cujo fumo desapareço da
minha plateia por mais uma semana em cartaz.
HERÓIS INESQUECÍVEIS - O PONTO (in bloguedebd.blogspot.pt)
http://bloguedebd.blogspot.pt/2015/07/herois-inesqueciveis-37-o-ponto.html
Pela “estranja”, nada constava de semelhante. Por cá, foi uma firme e encantadora sacudidela na “modorrinha nacional” (como diria Fialho de Almeida), tanto nos leitores como no seio dos nossos desenhistas de então.
Treze pranchas, do n.º 852 ao n.º 864 da já citada revista “Diabrete”, encantaram-nos e divertiram-nos com a história “Loja de Bonecos” ou “O Mistério do Cofre Sarapintado”...
Pranchas de "Loja de Bonecos", in "Diabrete" (1951)
O herói?... Simplesmente, “O Ponto, o Detective Sem Rosto”.
Pois ele é atrevido e desastrado, pequenino, com uma enorme cabeça (lembrando um aumentado ovo de avestruz), sem qualquer traço no rosto, mas tendo como adereços, o chapéuzito e o clássico cachimbo, que era típico na época em todos os detectives. Só um talento extraordinário como foi (e é) Fernandes Silva teria e teve a deliciosa “loucura” de inventar O Ponto. Na verdade, uma maravilha!...
Pois ele é atrevido e desastrado, pequenino, com uma enorme cabeça (lembrando um aumentado ovo de avestruz), sem qualquer traço no rosto, mas tendo como adereços, o chapéuzito e o clássico cachimbo, que era típico na época em todos os detectives. Só um talento extraordinário como foi (e é) Fernandes Silva teria e teve a deliciosa “loucura” de inventar O Ponto. Na verdade, uma maravilha!...
Ainda nesse 1951, o “Diabrete” publicou a segunda aventura de O Ponto, do n.º 875 ao n.º 887, com o título “Novas Aventuras Por Causa de Uma Talhada de Melão”. Mais tarde, em 1992, com total e amiga autorização do autor, esta narrativa foi publicada no n.º 8 dos “Cadernos Sobreda-BD”.
Depois... depois, só por 1955, agora na revista “Flecha”, apareceu a terceira e tão esperada aventura de O Ponto, intitulada “O Ponto, Detective Privado”.
Pranchas de "Novas Aventuras por Causa de Uma Talhada de Melão", in "Diabrete" (1951)
Durou do n.º 12 ao n.º 37. Mas, desoladoramente para os bedéfilos, ficou incompleta pois a revista finou-se subitamente e o nosso desenhista, desiludido, desinteressou-se... Que pena!
De qualquer modo, a revista “Flecha” maltratou quanto baste a publicação desta aventura: começou por prancha/página e passou a tiras mesquinhas em rodapé. Incrível atentado!...
Pranchas de "O Ponto, Detective Privado", in "Flecha" (1955)
O Ponto, será levianamente apelidado de anti-herói. Mas os anti-heróis não são também heróis?... De qualquer modo, é um marco indelével na BD Portuguesa.
Obrigado, Fernandes Silva!
Obrigado, Fernandes Silva!
LB
Capas de "Almada BD Fanzine" #6 (1991) e "Cadernos Sobreda BD" #8 (1992),
publicações onde O Ponto foi personagem em destaque.
sábado, 11 de julho de 2015
quarta-feira, 8 de julho de 2015
dia 14 de Julho na Ler Devagar - LxFactory em Alcantara a apresentação do álbum "30 Anos a dar Broncas" de Zé Oliveira
Este livro editado pela Cooperativa Trevim terá a apresentação por Manuel Freire e Osvaldo Macedo de Sousa pelas 18h30 na livraria "Ler Devagar" que se encontra em Alcântara (LXFactory) em Lisboa
Crónica Rosário Breve Tatus, tatuas, borrões & falcatruas por Daniel Abrunheiro
Eram,
antigamente eram, exclusivas de presidiários, de marinheiros e de soldados
coloniais. Refiro-me às tatuagens.
Como parece
ser (e é) tão próprio como fatal das coisas estúpidas, pegaram moda. O pessoal
faz tatuar-se muito, hoje em dia. Não ocorre às pessoas que o resultado seja o
de passarem a equivaler a espécimenes ambulantes de carcaças vivas carimbadas à
maneira do gado de matadouro. Por dentro, mudo e quedo, designo-as por tatus & tatuas. Merecem o apodo.
Tatus &
tatuas gostam particularmente do Verão. O calor (ou “a calma”, como lhe chamava o grande Sá de Miranda de “O sol é grande, caem co'a calma as aves(…)”)
despe-os e traveste-as, permitindo-lhes a exibição dos borrões frouxos que lhes
mancham o couro.
Não sei,
sentem-se talvez símbolos de alguma coisa maior do que as viditas que têm &
levam; apresentam-se talvez a si mesmos e a si próprias com algo de muito
importante para dizer que ninguém quer nem precisa de saber; julgam-se talvez
capazes de tudo, a começar por nada, aptos & prontas a mostrar, demonstrar,
cabalizar, revolucionar, espantar. A mim, no entanto, parece-me tão-só gente
que nunca mais se pode lavar na íntegra como deve ser.
Que os
penitentes dos presídios se maculem de códigos e de pertenças gangue-gregárias –
eu percebo: é apenas pueril, perigoso apenas, próprio de crianças ladronas e/ou
assassinas.
Que os
marinheiros na pele tragam do mar evidências de céu convexo – eu entendo: é
apenas Poesia, própria de gente com uma mulher em cada porto e com um porto em
cada filho.
Que os praças sentissem no Ultramar premências
de deixar escrito no próprio corpo Amor-de-Mãe-Angola-1967
– eu compreendia: Mãe, há só uma, como com a Morte acontece.
Agora,
estes tatus & estas tatuas que por aí me embaciam as dioptrias – não. Não
gosto. Sujam-se por tudo e para nada. E não me diga ninguém que tomo a parte
pelo todo: parte-me todo, tal dito.
Ainda há
bocadito, no autocarro nocturno (último da carreira, metáfora rodada e a gasóleo
do acabamento e da insensatez da viagem),
vi uma tatua. Já tinha mais do que idade para não gastar o siso todo em dentes
serôdios. Uma borboleta feia gangrenava-lhe a roxo o bíceps dextro. Em baixo, o
artelho do mesmo lado acolhia uma tarântula cega. Na tábua do peito
(mamariamente falando, a quarentona saía ao pai), floria-lhe um coração falador
que exclamava “Raul” e “Love”. E eu sei que ela agora se
amanceba com um que é Júlio, que o Raul a deixou pela Guida Florista, que na
vida só há duas hipóteses: ou Raul
Forever ou Love do tipo não-empurrem-que-há-lugar-p’a-todos.
O desastre
estético da pobrezita culminava nas asas do nariz, agrafadas ambas com piercings evocadores do arganel no
focinho dos porcos, e nas unhas de mãos & pés, as quais dez, esmaltadas a
verde, me fizeram pensar se ela não viria de jogar à porrada, fazendo-o
sangrar, com algum extraterrestre daqueles do Scharwznegger.
Coitadita.
Eu não deveria ser assim tão malévolo para com ela e para com os asininos seus
homólogos que se deslavam as dermes com anjos, estrelas, búzios, cornetas,
morcegos, zodíacos e similares insígnias do género ó-p’ra-mim-a-meter-nojo-e-ainda-por-cima-paguei-um-balúrdio-pa’-isto.
Sou um
reles bota-de-elástico, eu sei. Sou. Sei. Sim. Mas é que.
Mas é que a
tal tatua me trocou as voltas ao projectado duplo mote da crónica. Amolou-me o
ferrão. Embotou-me a verruma. Eu vinha para gozar um bocado à pala do
enigmático zootecnocrata que passou a integrar a administração do Hospital
(para humanos, em princípio) de Santarém (que já lá tinha poucos, aliás). Era
para gozar com isso – e com a Carta Educativa que a Assembleia Municipal de
Santarém ratificou à absoluta revelia das autarquias menores que lhe são
relativas e em completo desprezo pelas necessidades reais, na vida real, das
populações com suas crianças sem eira e suas escolas sem beira. Ora,
atraindo-me as hastes (por assim dizer e não desfazendo das vossas) e as lentes,
a tatua fez-me falcatrua. Mas não faz mal, afinal. Porque, enfim, sempre
simbolizam, as manchas dela, alguma coisa: a nomeação das boy-boletas e a aranha do
menosprezo e da repugnância pela Educação que é afim de todas as pesporrências
e de todas as prepotências, a começar pelas mais analfabetas, como é o caso da
nossa bronca Edilidade.
Mas, ó meu
bom Sá de Miranda, calma! Tais aves também caem, ao contrário das
tatuagens com que se mancham, a ponto de nunca mais, como deve ser, se possa
delas dizer coisa limpa e lavada.
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