(Nota
prévia: em pessoa, não me atreveria a tutear-te, Luís Eugénio Ferreira. Nesta
folha, onde companheiros escribas somos (por e para minha honra mais do que
para e por tua), atrevo-me. Assim seja, posto que assim vai ser.)
Permite-me
que te justifique o gravoso título da corrente crónica. É sincero, para já. Li,
na mais recente edição do noss’O RIBATEJO, o teu Solilóquio 2.
Nele afirmas já teres obolado o sinistro Caronte. Como quem diz que pagaste já
a fatal travessia que a todos nos está reservada. Se adiantado pagaste, que mal
servido sejas, Luís. E que muitos anos demores, a vau, a cruzar tal almegue, a
que não sei se chame Letes ou Hades. Vou mais pelo Letes – o Hades lembra-me
um tal Jorge Mota Coelho Engil a falar…
Mente-me
ainda o noss’O RIBATEJO que estás “à beira de completar os 90 anos”…
Aldrabões! Pode lá pois tal ser! Cinquenta e um faço eu na sexta-feira, 8 do
corrente Maio, e também é mentira!
Bem, mais a
sério: bem mereces os muitos abraços que decerto vais receber no sábado, 9,
pelas 17 horas, no Centro Cultural Scalabitano. Magnífica (mais uma, aliás)
iniciativa do Movimento de Cidadania “No Coração da Cidade”. Parece que
Santarém te retribui em amor, que não em géneros, o amor que (desde) sempre lhe
devotaste.
És, Luís
Eugénio, o tipo de homem que eu quero ser quando for homem. De intocável
hombridade, de indelével civismo, de profunda filantropia, de não cotejável
urbanidade – és um cavalheiro como já tão poucos há.
Quanto à tal
festa de sábado, espero tão-só (vade retro!) que um tal espécimen de
Boliqueime se não lembre de por aí aparecer. Que antiga e moça gente toda tua
seja a tua roda, essa sim.
Tem juízo: e
dá seca ao tal Caronte por muitos anos mais. Fazes-nos falta como o ar, crê-me.
Honra não é palavra vã – e tu honraste a Vida e a Cidade cada dia, cada década,
cada página que (escre)viveste. Honra te seja pois, não feita, mas reconhecida.
Sou-te grato
como leitor. Sou só mais um dentre os muitos afortunados que tiveram o
privilégio de ser teus contemporâneos – e ainda, o que é mais e melhor, teus
coetâneos.
Saúde, Luís
Eugénio! Sobre que escreverás na próxima semana? Seja o que e sobre o que for,
não lhe chames solilóquio. Nunca foi sozinho que falaste. Nunca foi
sozinhos que ficámos depois de ler-te.
Mando-te uma
rosa. Farás o favor de seres cravo para ela.
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