A crónica desta semana nasceu daquele
tipo de coisas que só vividas e acontecidas pessoalmente. Explico-me: regular,
conscienciosa e serenamente revisito/revivo/releio Autores e Livros que são
importantes na minha vida não importante.
Por estes dias mais recentes,
apeteceu-me o saudoso Manuel António Pina (1943-2012). Gosto muito da escrita
dele. Fui à estante e recuperei dois títulos do saudoso senhor: Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança (Assírio
& Alvim, Lisboa, Setembro de 1999) e Ainda
Não É O Princípio Nem O Fim Do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde (1.ª ed.,
1974; o meu exemplar é da 2.ª ed., A Erva Daninha, 1982). Foi uma ideia feliz.
Pela finimanhã de 25 de Abril do corrente, em Coimbra, reli de um fôlego este
último, ao mesmo ritmo e com a mesma delícia da primeira vez, que me aconteceu
(tenho tudo apontado) a 18 de Abril de 1989, na Figueira da Foz. Já o Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança, que
povoou a minha madrugada de 28 de Dezembro de 1999, foi a minha companhia de 27
de Abril do corrente ano do Senhor. Eis senão quando.
Eis senão quando, esta manhã
(terça-feira, 28 de Abril de 2015), depois de ter ido ali ao Posto de Saúde
(sim, ainda temos um aberto) levar uma pica vitamínica na nalga dextra, coxeando dou de caras, na montra de uma livraria
especializada em livros em fim de edição (isto é, em fim de vida), com um
título atraentíssimo: Dito em Voz Alta –
Entrevistas sobre Literatura, Isto É, sobre Tudo, dum tal… Manuel António
Pina (edição de Abril de 2007 da entretanto extinta editora conimbricense Pé de
Página, com organização de Sousa Dias, apresentação de Inês Fonseca Santos e
vários entrevistadores). Porreiro, porreiríssimo: por 1 (um!) euro, ganhei o
dia. (Há lá mais uma data deles: se quiserdes, mandai-me um mail a pedir um, que vo-lo enviarei pelo
mesmo euro mais portes de correio, azul ou não. Quem é amigo, quem é? Sou eu.)
Mas voltemos atrás um pouco. A páginas
47 do meu exemplar de Ainda Não É O
Princípio Nem O Fim Do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde, Pina faz uma
coisa genial. Num poema de quatro quadras intitulado 4 de Julho de 1965, que faz ele? Recorta dos jornais desse dia
frases soltas e entre si desconectadas, criando um hilariante efeito
poético-crítico-estético-político-social. E o diabo a quatro. Eu queria ter
tido aquela ideia. Mas não iria, eu, nunca, isso é que nunca, plagiar o meu
querido, estimado e venerado Pina. Até que, outra vez, eis senão quando: a
páginas 19 do tal Dito em Voz Alta,
“ouço-o” dizer assim: “A literatura – já
uma vez o escrevi – é uma arte de ladrões que roubam a ladrões. Se a
constatação se aplica facilmente à colagem enquanto processo literário,
aplica-se também, no entanto, à generalidade dos outros processos e à própria
literatura enquanto tal.” E conclui ele assim: “Diz Eliot que os poetas fracos copiam e os poetas fortes roubam.”
Modos que eu, ai ele é isso?, esfregando
de contente as cronicantes patitas, me decidi logo, armado em forte, roubar a
ideia. Se bem o pensei, pior o fiz. O que ides ler, pois, não é meu senão no copy-paste. Recortei da edição de O RIBATEJO de 23 de Abril deste (nem há
outro) 2015 tudo o que lá (no “poema” meu,
digo) vem. Daí o itálico. A culpa não é minha. É do saudoso Pina. Em boa
memória dele e em a ele tributo o faço, esperando que da leitura deste
divertimento, que outra coisa afinal não é, algum vosso prazer resulte.
23 de Abril
de 2015
Falsa
ameaça de bomba
câmara
pede investigação
levou
à evacuação
da
Finlândia com amor
que
pode ser lida nesta edição
e
bons vinhos da região.
Pode
fechar em Abrantes
para
a tornar melhor
prudência
com as utopias
geral@restaurante
sem
acesso à conta por
apelo
da união das freguesias.
Esteve
na semana passada
com
tinta ecológica de base vegetal
camião
carregado de palha
pela
assembleia municipal.
Já
não fico cansada.
Aplaudido
de pé no final.
Em
muitas das afirmações
temem que a decisão traga viatura
à
polícia prestar declarações
por
queixas de moradores da agricultura
de
forma 100% segura
por
muitas e boas razões.
Fábrica
de leite fecha e deixa
nas
suas vidas o bem-estar
centro
de excelência agro-alimentar
para
além da bondade das medidas
diz
não ter alternativas
mas
desde sempre a apoiar.
Sessenta
no desemprego são estrelas
da
capital da pele industrial
e
descobrem-se no teatro
a
25 de Abril no mesmo local
a empacotar
pevides por exemplo
do
presidente da câmara municipal.
Prova
disso são os comentários
com
conceitos tão antinatura.
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