Nem todos os cristãos são
católicos, nem todos os católicos são cristãos.
O mesmo se aplica aos socialistas
de Portugal: nem todos os que o são, estão no PS; nem todos os que no PS estão,
socialistas são.
Por outras palavras e no sentido
idêntico: nem das galinhas cresce lã, nem as ovelhas dão ovos.
O que reluz e o que é ouro – raro
coincidem.
Dou por mim a dar nestas lapalisseadas pelo alvor da manhã
derradeira de Setembro. Uma cantoneira da Câmara vai penteando a corta-relvas o
separador central da Avenida. Pela galeria da Rita, choutando a mansinho passo,
uma senhorita-caniche dá trela a si mesma em gracioso par. O copofonista
madrugador das sete e onze acaba de emborcar o terceiro porto mercê de uma
tecnicamente perfeita cabeçada-marcha-atrás.
Dão as sete e doze quando me ocorre
que o senhor papa Francisco sempre há-de, cá p’ra mim, ser tão mais cristão
quão menos católico pareça. Já quanto ao novel campeão de pesos-mosca, António
Costa, aliás simpático e bonacheirão portugoês
do Príncipe Real, o mínimo é agradecer-lhe, para já & se calhar muito, a
deserção do inSeguro da televisiva pantalha. Receio, tão-só, que os coelhos ainda venham a dar ovos, fora da
pagã Páscoa do calendário comercial.
Través tudo isto, faço como os
índios da Nort’aAmérica: tenho as minhas reservas. Tudo faço para não confundir
a canábis com os canibais. De crónicas ferreiro, que espeto de pau me não seja
o argumento. Não pretendo ser indelicado, não é melindrar que pretendo. Os
“simpatizantes” do PS podem perfeitamente integrar procissões santuárias, tal
como ele houve decerto muito padre que a seu tempo votou Sócrates. Não é com
isso que me vou armar em cabeçudo – desses cabeçudos tão cabeçudos, mas tão,
que nem se penteiam, antes estabelecem perímetro. O PS e a Igreja não me fazem
mal. Também me não enchem de sopa o prato. Cá p’ra mim, a filial portuguesa de
Roma e o partido rosicler são como
aqueles primos remotos que todos temos algures: usam-nos o apelido mas não são
nós.
Enquanto tudo isto, uma matrona
conserta ao decote um fio de ouro de que se dependura a medalhinha da Senhora
da Conceição. Mas, por pecaminosamente ter madeixado de trigo químico a cor
natural da cabeleira, é como se a Imaculada habite o sopé de uma silveira
outonal. É como a vocação dos sapateiros para serem coxos. O da minha Rua era:
cambava o próprio andar.
Por este andar, dizia eu pois, o PS
ainda se arrisca a deixar de vez cair a máscara. Que é como quem diz: a
maquilhagem. Aquele “S” sempre significou tudo menos “Socialista”. Foi “S” de
Soares, de Santos (Almeida), de Sampaio, de Sócrates, de Seguro. Só lhe faltou
ser de Santana, pelo histórico descambar.
Ainda me hei-de rir um dia destes.
Digo: de o PS tornar-se PC.
“C” de Costa, não de “Comunista”.
Ou de “Católico”.
Agora de “Cristão” é que não, isso
de certezinha absoluta.
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