domingo, 31 de julho de 2016

Crónica Rosário Breve Terrorismos estivais por Daniel Abrunheiro


1 O terrorismo não se esgota nos atentados suicidas, nem no fundamentalismo mascarado de religião, nem no maniqueísmo simplista nós bons/eles maus. Ah pois não. Ele há mais terrorismo. O das famigeradas “sanções” da alegada União supostamente Europeia, por exemplo. Intolerável ingerência na soberania de cada Estado mais “periférico” (isto é: tudo o que não é Paris, não é Bruxelas & não é Berlim), todo este aparato dos “défices estruturais” e da “Dívida” traz água estragada no bico. Para mim, é terrorismo. E não costumo enganar-me nas palavras que uso.
2 Outro terrorismo: a Corrupção. Ela é o fascismo de colarinho-branco. É também & ainda, por dentro da Democracia, o mais voraz inimigo dos direitos básicos que são a própria essência da dita. O direito ao trabalho, o direito à justiça, o direito à saúde, o direito à educação – tudo é quotidianamente minado e apodrecido em consequência do que por aí vai de gente vil, sem uma pinga de vergonha na cara, que infesta a banca. Por exemplo, a banca – claro que articulada com a sabujice de certa politica. O clientelismo amiguista à portuguesa prima ainda, todavia, por um outro fenómeno iniludível. Este aqui: uma substancial porção do povoléu não deixa de sentir admiração pelos agiotas que roubam, pelas gravatas que garrotam, pelos euromilhões públicos gamados à escala industrial. É verdade: muito portuguesinho médio sente a sua veneraçãozinha pelos manhosos cujas roubalheiras tornam o erário público numa gamela a céu-aberto & à boca-fechada. Reforço & repito: há por aí muito Zé-Ninguém que gostaria de volver-se Zé-Alguém, não pela justa recompensa de um trabalho justo, mas pelo “esquema”. Haverá por aí algum Leitor meu que não conheça alguém assim?

3 Termino por esta semana com uma confissão: cada ano que acumulo, o Verão torna-se-me mais intolerável. A inflação centígrada dos últimos dias tem-me tornado um bicharoco recluso cozendo à sombra dos quarenta graus. Amanheço a desejar a noitinha. Jornada é fornada. No céu sem fronteiras, o grande Sol, rei ímpar, dardeja uma violência que calcina. Antigamente (falo por mim, só por mim), era uma estação bem-vinda. A trégua escolar chamava & juntava os grandes ócios maravilhosos de ir à fruta, ao rio, à mata, aonde o nariz livre apontasse. Aos 52 anos, sou um velhinho transido de calor que quer tão-só esses estores bem descorridos para baixo, essas cortinas bem encerradas, a casa tornada mosteiro de pedra fechada à violência solar. É como se o Sul da Europa tivesse sido tragado para sempre pelo Norte de África. Ou por Berlim. E ainda temos Agosto aí à porta, raios o partam.

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