1
O
terrorismo não se esgota nos atentados suicidas, nem no fundamentalismo
mascarado de religião, nem no maniqueísmo simplista nós bons/eles maus. Ah pois
não. Ele há mais terrorismo. O das famigeradas “sanções” da alegada União
supostamente Europeia, por exemplo. Intolerável ingerência na soberania de cada
Estado mais “periférico” (isto é: tudo o que não é Paris, não é Bruxelas &
não é Berlim), todo este aparato dos “défices estruturais” e da “Dívida” traz
água estragada no bico. Para mim, é terrorismo. E não costumo enganar-me nas
palavras que uso.
2
Outro
terrorismo: a Corrupção. Ela é o fascismo de colarinho-branco. É também & ainda,
por dentro da Democracia, o mais voraz inimigo dos direitos básicos que são a
própria essência da dita. O direito ao trabalho, o direito à justiça, o direito
à saúde, o direito à educação – tudo é quotidianamente minado e apodrecido em
consequência do que por aí vai de gente vil, sem uma pinga de vergonha na cara,
que infesta a banca. Por exemplo, a banca – claro que articulada com a sabujice
de certa politica. O clientelismo amiguista à portuguesa prima ainda, todavia,
por um outro fenómeno iniludível. Este aqui: uma substancial porção do povoléu
não deixa de sentir admiração pelos agiotas que roubam, pelas gravatas que
garrotam, pelos euromilhões públicos gamados à escala industrial. É verdade:
muito portuguesinho médio sente a sua veneraçãozinha pelos manhosos cujas
roubalheiras tornam o erário público numa gamela a céu-aberto & à
boca-fechada. Reforço & repito: há por aí muito Zé-Ninguém que gostaria de
volver-se Zé-Alguém, não pela justa recompensa de um trabalho justo, mas pelo
“esquema”. Haverá por aí algum Leitor meu que não conheça alguém assim?
3
Termino
por esta semana com uma confissão: cada ano que acumulo, o Verão torna-se-me
mais intolerável. A inflação centígrada dos últimos dias tem-me tornado um
bicharoco recluso cozendo à sombra dos quarenta graus. Amanheço a desejar a
noitinha. Jornada é fornada. No céu sem fronteiras, o grande Sol, rei ímpar,
dardeja uma violência que calcina. Antigamente (falo por mim, só por mim), era
uma estação bem-vinda. A trégua escolar chamava & juntava os grandes ócios maravilhosos
de ir à fruta, ao rio, à mata, aonde o nariz livre apontasse. Aos 52 anos, sou
um velhinho transido de calor que quer tão-só esses estores bem descorridos
para baixo, essas cortinas bem encerradas, a casa tornada mosteiro de pedra
fechada à violência solar. É como se o Sul da Europa tivesse sido tragado para
sempre pelo Norte de África. Ou por Berlim. E ainda temos Agosto aí à porta,
raios o partam.
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