Chamar
universidade à Lusófona é o mesmo que
chamar doutor ao Relvas. Fé na Virgem
e o Diabo a correr. É como o Vara, por uns meros robalos, apanhar-se doutorado em Piscicultura. A Educação estropiada em antros afins, da pré-primária ao superior. Colegiais contratos-de-associação com
paralelismo-pedagógico. Milhões públicos
ao desbarato privado. Licenciaturas falsas como Judas pago a lentilhas corrupto-milionárias. Euromilhões do bacoco de província capaz
de erguer um gimnodesportivo de cartolina para o futsal do 12.º sem esforço. Diplomas de carne-picada à bolonhesa segundo o tratante Tratado
de Bolonha: faço de ti doutor-engenheiro
mais depressa do que a desAssunção inEsteves há-de perceber o que seja um
prefixo de negação. Para um imbecil académico
– a praxe é um direito fundamental;
para um imbecil jota – todos os direitos fundamentais são
referendáveis – imbecil por imbecil, a coisa
compõe-se. Mas no dia em que a deficiência mental for por lei equiparada à
deficiência motora, os palácios e os terreiros-do-passos
vão ter uma data de rampas. Deixa-me ouvir o que diz o Marcelo que sabe disto.
Especialista, ele também, do culto do
instantâneo, da retórica frívola, da papagueação de encher-olho com a boca cheia
de nada. Já tivemos Presidentes da República por bem menos. O Capucho corrido à
pedrada pelos estalinistas
cor-de-laranja. Mas o Rui Nunes, in Uma
Viagem no Outono, a dizer que “O
futuro onde estamos tem a iníqua alegria dos sacanas.” Pois estamos. Pois
tem. Mas o Júlio Isidro, no Diário de
Notícias de 17 de Fevereiro do corrente, a dizer que “Só as pessoas felizes é que são livres.” Pois são, elas sim, mas
então aqui a gente vai toda presa, pois que a tristura nos algema olhos e mãos.
O Stig Dagerman afiançando algures que “O
jornalismo é a arte de chegar tarde o mais cedo possível.” Mas ser muito
mais fácil o Cardozo marcar com êxito um penalty
decisivo do que chamar jornalismo, por exemplo, ao Prós & Contras, programa em que tudo
o que possa ser sério é arquivado para amnésia futura enquanto a sacerdotisa-de-serviço se arregala e saracoteia. A nossa dignidade derradeira
estilhaçando-se em irrecicláveis despojos de granada-de-fragmentação. A República ser constitucionalmente laica
mas ter e pagar na mesma uns milhares de euros ao, aliás reformado, próximo bispo-capelão das Forças Armadas. O
País quase todo a barafustar contra o atraso
do Porto naquele jogo da Taça da Liga
– mas quase ninguém a vituperar o atraso
de décadas do mesmo País de patuscos,
i.e., Nós quase todos. O
cómico-trágico desta pandilha litoral
que tem por nome Portugal estar
escarrapachado na implacável sucessão de encerramentos de tribunais, centros de
saúde, escolas, oficinas – mas, só por nevar lã da pala de um campo-da-bola, ai-Jesus-que-falta-o-ar
à carneirada. E tudo ilibado no caso
dos submarinos: pelo que porta-aviões-da-Justiça
ao fundo. Mais o paradoxo pulha de agilizar o despedimento com uma pata
enquanto a outra (oh mas quão blandiciosamente!) drapeja a bandeirola do milagre económico. A Virgem correndo e o
Diabo a rir-se. À privatização das águas, há-de seguir-se a do ar, a do sol, a
da lua e a das mães deles, até agora
públicas. As mães. Venda-se os Mirós todos
mas não nos lixem a Joana Vasconcelos, essa nossa kitsch de últimos-socorros para basbaques parisienses.
Explica-desenhar a cores aos drogados deste morredouro-de-seringas que o Caran d’Ache rima com haxe mas não é para fumar. A maldição de Circe, que foi a de
transformar os homens em porcos, continuando viva e esperneante no Orwell dos porcos-ao-poder. A literatura de hipermercado acabando de esvaziar as mentes das
professoritas do tal ensino particular sempre
tão mortinhas por beijocar a boca-de-sapo
do Sousa Tavares a ver se descobrem a que é que sabe a beiça de um príncipe-do-nada. A tal Lusófona a dar cobertura ao bisonho Bisonte-dux-badameco do Meco e ameaçando processar os pais dos afogados por
calúnia e atentado ao bom-nome da
instituição. A Virgem a querer saber – Mas
qual bom-nome? – e o Diabo a dizer-lhe – O meu, querida, pois de quem querias tu que fosse?
E
tudo isto nos causar uma estranha espécie de surdez diurética, que consiste no já nem os podermos ouvir mas nos
mijarmos a rir de todos eles na mesma.
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