domingo, 16 de junho de 2013

Livraria Ler Devagar - Dia 26 de Junho - Lançamento do álbum "Fernando Correia Dias, um poeta do Traço" de Osvaldo Macedo de Sousa

“FERNANDO CORREIA DIAS, UM POETA DO TRAÇO”
de Osvaldo Macedo de Sousa

Biografia e redescoberta de uma extraordinária obra de um pioneiro do modernismo Português e Brasileiro, numa edição da editora brasileira Batel, cujo lançamento é acompanhado por uma exposição (de 26 de Junho a 10 de Julho de 2013)
na Livraria Ler Devagar na Lx. Factory (Alcântara – Lisboa)

            O fascinante da História é a sua mutabilidade, não pela visão dos vitoriosos do momento, mas pela constante descoberta de velhos documentos, obras e testemunhos que nos obrigam a reescrevê-la, abordando novas leituras e perspectivas. É um jogo de memórias, de injustiças, de esquecimentos, de redescobertas e requalificações.
            Fernando Correia Dias é um extraordinário artista que a memória se esfumou na tragédia da sua morte, no pó das hemerotecas e alfarrabistas. 120 anos após o seu nascimento em Penajoia - Lamego (10/11/1892) e 99 anos após a apoteótica exposição no Salão da Ilustração Portuguesa em Lisboa, é momento de se redescobrir a obra genial do luso-brasileiro Fernando Correia Dias, pioneiro do modernismo em Portugal (1909 / 1914) e no Brasil /1914 / 1935).
            Não há duvida que, mesmo sem terem consciência disso, o grupo formado no Liceu / Universidade de Coimbra (Correia Dias, Christiano Shepard Cruz, Álvaro Cerveira Pinto, Luiz Filipe Rodrigues e depois António Balha e Melo) a partir de 1909 foi o principal motor de arranque do modernismo, desenvolvido depois no resto do país com o Grupo dos Humoristas, Fantasistas, Futuristas... Correia Dias será o único que, nesta fase portuguesa, nunca deixará Coimbra mas, daí lançará toda a sua influência através do trabalho, em cumplicidade teórico-estética com o resto do grupo, publicado em "O Gorro", "A Farça", "A Sátira", "A Águia", "Gente Nova", “Alma Académica”… darão um novo curso às artes gráficas, à paginação e à  ilustração. A sua pintura e cerâmica, por terem sido uma obra apenas visionada nas exposições de Coimbra (1912 e 14) e em Lisboa (1914) acabaram por não deixar grande influência, corroborando apenas a linha estético-filosófica que o seu cúmplice, Christiano Cruz teorizava nas entrevistas da imprensa lisboeta. Passaram um pouco despercebidas as suas irreverências cubistas no auto-retrato, as explorações do sintetismo abstracto-grotesco nas cerâmicas de “Caveirocaricatura de Leal da Câmara”, “Christiano Cruz”…
            Essa marca seria mais profunda no Rio de Janeiro, onde, de imediato, foi absorvido pela irreverência carioca, adaptando o seu modernismo ao gosto local, reivindicando uma linha nacionalista no uso e abuso dos elementos nativos da fauna e flora, com especial reescrita da arte deco através dos elementos neo-marajoara que se desenvolveram na cerâmica, tapeçaria e em intervenções arquitectónicas… Seriam seus cúmplices J. Carlos, Di Cavalcanti, Menotti del Pichia, Tarsila do Amaral…
            A sua criatividade prolífera fá-lo-á abordar todos os géneros criativos, das artes decorativas (como tapeçaria, cerâmica, mobiliário) à pintura, do desenho de ilustração ao desenho gráfico (títulos, letras, capitulares, paginação, diafragmação, capas, “ex-libris”…). Foi um inovador na concepção do livro como obra de arte, com as suas extraordinárias capas, com a introdução da cor, da ilustração, das capitulares… Apesar de toda esta dispersão criativa, será nas artes gráficas que a sua obra predominará, já que era também a forma mais fácil de sobrevivência económica.
            Tanto em Portugal, como no Brasil, a sua corte tertuliana era preferencialmente literária, tendo mesmo desposado a que seria um dos expoentes da poesia do séc. XX brasileiro, Cecília Meirelles, o que influenciou profundamente a sua obra, o seu trabalho como cenógrafo da palavra, como poeta do traço, em que cada obra é um diálogo, uma profunda comunhão entre a ilustração e o conteúdo, o estilo, a estética da obra literária que ele serve como promotor plástico. A sua arte nunca se impõe estilisticamente, antes está ao serviço do escritor, do texto, do poema para o melhor promover e realçar.

            Devido ao seu trágico desaparecimento, em Novembro de 1935 no Rio de Janeiro, por suicídio neurasténico, a sua obra “perder-se-ia” nos baús do constrangimento familiar, no esquecimento das memórias efémeras das hemerotecas, alfarrabistas e historiadores desatentos, durante quase oito décadas. Eis finalmente o momento de se abrirem as arcas, de desempoeirar a memória, recuperar o esplendor desta obra genial que a família colocou à disposição para a edição deste luxuoso álbum publicado pela Editora Batel do Rio de Janeiro. O estudo biográfico e analítico da obra é do historiador português Osvaldo Macedo de Sousa.

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